Aos governantes por aí, que acreditam
que em qualquer época do ano, a frequência do alunado DEVE SER perto dos
100%...
Caros senhores, aqui quem vos fala é
alguém que se encontra com os pés, cabeça e o coração no chão da escola, que
mesmo, em anos anteriores, atuando em outras funções na educação pública, nunca
deixou de ter um contato frequente e regular com unidades escolares muito
diversas entre si.
Dito isto, vou abordar aqui quem são os alunos da escola
pública. Temos uma clientela bem variada, desde alunos de classe média até
alunos menos favorecidos financeiramente.
Vou falar destes últimos!
Vou falar deles, porque eles, assim
como eu, sabemos o que é passar muito frio! O que é ter que acender uma tampa
de tambor de ferro no chão da cozinha para fazer uma fogueira e se aquecer nas
madrugadas gélidas do sul do País, para só depois poder ir para a cama e tentar
dormir. Também sei o que é só ter uma coberta e precisar enrolar os pés com
jornal e colocá-los dentro de um saco plástico de arroz, para após me deitar,
senti-los aquecidos e então conseguir pegar no sono. Sei o que é sentir o vento
gelado do sul entrando pelo telhado, por baixo da porta, pelas janelas, pelas
frestas das paredes e gelar a cabeça e transpassar o único cobertor sobre meu
corpo.
E o que isso tem a ver com os alunos?
TUDO!
A pobreza e a miséria no país não
acabaram! Nunca acabou!
Estamos no inverno com dias com
temperaturas perto dos 8°,
9° graus, à noite provavelmente bem abaixo disto.
Mesmo com dias frios, gelados, noites
ainda mais gélidas, vemos nossos alunos, nossas alunas das classes menos
favorecidas, vindo para a escola somente com um chinelo nos pés, poucos com uma
meia um pouco mais quente, para tentar aquecê-los.
Vemos alunos e alunas vindo pra
escola de bermuda, alguns com uma blusa de moletom, outros nem isto.
Vemos alunos do noturno, mesmo na
chuva, vindo pra escola de chinelo, pés molhados e sem um guarda chuvas.
Vemos mães/pais/responsáveis, aqueles
que ainda buscam seus filhos na saída, virem molhados, por não terem um guarda
chuva ou uma sombrinha para se proteger e proteger sua prole no caminho pra
casa, nem sempre próximo da escola, afinal até 2 km da escola não se tem
transporte escolar, famílias menos favorecidas, em geral, não possuem carros
para buscar suas crianças/adolescentes, nem têm, assim como os mais abastados,
carro com motorista para buscar seus “pimpolhos” na porta da escola.
Presenciamos direção, coordenação,
professores se mobilizando para trazer roupas e calçados e arrecadar nas suas
famílias para ajudar os alunos e alunas a passar por este período com um pouco
mais de conforto, com os corpos mais
aquecidos e seus corações também com o calor humano!
Mesmo assim, nobres políticos, muitos
alunos faltam, sim, faltam, porque ninguém deveria ser obrigado a sofrer
com o inverno, ainda assim, não têm, do poder público, a sensibilidade e a
empatia, tão falada nos discursos inflamados dos senhores: EMPATIA, com suas
extremas e permanentes dificuldades financeiras e sociais!
Acredito que os “nobres”
políticos/governantes nunca passaram frios extremos sem ter uma blusa quente,
uma calça bem grossa e quente, sem ter um bom calçado de couro ou um bom tênis
de marca, um bom moletom com touca bem quente, ou um bom sobretudo de lã! Se um
dia na vida passaram frio... ESQUECERAM! SIM, ESQUECERAM!
Acredito que não tenham passado por
isto, pois a elite dominante, que estudou nos mais caros colégios particulares
deste país, onde há filas de carros com motoristas na porta para buscar os
filhinhos e as filhinhas para que estes não tomem uma única gota de chuva,
muito menos um tímido vento frio! Talvez por isto exijam índices de frequência
às aulas em tempos tão gélidos, porque tenham um coração igualmente gélido a
ponto de ignorar as carências extremas da população desassistida de nosso país!
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