Ontem,
02/02/2022, em uma dinâmica de acolhimento em uma unidade escolar, na qual os
alunos se apresentavam e falavam um sonho, um defeito e uma qualidade, vários,
nas turmas, onde estive falaram “SOU ansioso”.
Esta
fala ocorreu entre alunos e alunas, em idades diversas.
Passamos
por dois duríssimos anos de pandemia de COVID 19, que esperávamos que acabasse
após a vacinação. Não acabou!
Os
alunos, como é sabido por todos, ficaram por cerca de um ano e meio, sem aulas
presenciais, no Estado onde moro, com aulas remotas, nas quais as escolas
fizeram arranjos para tentar atender a todos. Aulas pelo Google Meet, Teams,
atendimentos via whatsapp, envio de
materiais impressos, em parceria com algumas Prefeituras, que entregavam os
materiais regularmente nas casas dos alunos da zona rural, até mesmo da área
urbana. O acompanhamento via whatsapp, telefone, e-mail, redes sociais foi
extremamente intensificado para que todos tivessem informações, orientações, e
claro, MOTIVAÇÃO!
Mesmo
com apoio de profissionais de psicologia, que faziam reuniões remotas em
pequenos grupos, nem todos tiveram acesso a este apoio, seja pela falta de
conexão com a internet ou conexão muito ruim (que é muito comum, apesar das
propagandas das operadoras dizerem o contrário) ou por não terem tido a vontade
de participar destas sessões, pois certos problemas de foro íntimo, todos têm o
direito de não querer expor a um grupo, mesmo que seja de amigos ou professores
e gestores.
Tenho
conversado com um profissional da área da psicologia, de vez em quando, temos
falado deste sentimento tão comum, neste período, tão doloroso para todos, mas
em especial, mais difícil para crianças e adolescentes, que passaram a ter a
morte, a perda de pessoas queridas acontecendo de forma abrupta, inesperada,
sem adeus!
Neste
período os jovens ficaram sem a interação social presencial, tão necessária,
para o nosso crescimento e amadurecimento enquanto seres humanos sociais. Isto,
esta carência de conviver, estar junto, estar perto, só demonstra o quanto a
escola, os professores, os profissionais da Educação, os demais alunos são
essenciais para nossa saúde mental e emocional!
É na
escola que jovem encontra pessoas que o ouvem, inclusive nos seus medos,
anseios, problemas, por mais que, talvez não pareça, mas sempre existiu, mesmo
sem o psicólogo, este ouvir, escutar, se interessar pelo outro. Claro que, em
alguns momentos, esta escuta é mais rápida, devido à própria dinâmica da
unidade escolar, que também tem diversas carências não supridas pelo poder
público, mas ainda assim, sempre tem alguém, que para o que está fazendo para
conversar, ouvir, orientar, apoiar, fazer o que Rubem Alves chamava de
“escutatória”. Este autor comentava que muita gente faz aulas, cursos de
oratória, mas o que precisamos é fazer cursos de escutatória!
Esta
nova ansiedade, surgida neste período, a coronafobia, já batizada, bem como
comprovada com estudos realizados por instituições de renome. Apesar de já ter
nome, ainda não se definiu se esta será, de fato, colocada como nova doença,
nem se sabe ao certo quais são todos os sintomas.
Para
muitos alunos, este ano, traz, em meio à pandemia, ainda mais mudanças, pois
saíram de uma escola, onde estiveram 5, 9 anos, estudando com um ou no máximo
três professores, a cada ano, a partir de agora, foram para outra escola, onde
todas as pessoas, inclusive colegas de turma, são novos, o ambiente é outro, os
espaços escolares também, a quantidade de professores aumentou muito, a troca
de professores a cada aula também. Aliado a isto temos crianças chegando no 6º
ano (antiga 5ª série) com 10 anos e que vão completar os 11 anos, em maio,
junho, setembro, outubro! Parece não fazer diferença, mas faz...
O
aluno com 11 anos, ainda não está na fase abstrata, portanto os profissionais
que trabalharão com esta fase, com alunos cada vez mais novos, se atentar a
isto, pois as matérias que exigem cada vez mais operações mentais abstratas,
precisarão de mais contextualização para que o aluno, que precisa do concreto, possa entender e
avançar na sua aprendizagem.
Os alunos
do Ensino Médio terão mais mudanças ainda, por conta das mudanças no curso, que
a partir deste ano terão menos aulas da formação geral básica, para ter mais
aulas dos itinerários formativos, que preveem novos arranjos curriculares e
exigirá muita preparação e estudo dos professores, que ministrarão conteúdos
que, muitas vezes, não fazem parte da sua formação acadêmica.
Além
disto, há muitas escolas no estado, que também mudaram o tipo de escola, de
organização de tempos escolares, de ampliação da permanência do aluno na
escola, saíram de 5h30 de aulas para cerca de 7 horas.
Tantas
mudanças... e a pandemia e os problemas oriundos dela continuam! E os
transtornos de ansiedade e depressão também!
E o
que o poder público, especificamente, a área da saúde está fazendo para atender
esta demanda surgida neste período, que precisa de apoio psicológico
individualizado? Se nem médicos, especialidades básicas, se conseguem
consultas, quando precisamos nas unidades básicas de saúde?
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