Vamos
vivendo e colecionando memórias e #histórias. Todos têm as suas. Poucas. Muitas.
Vejo minha mãe, com seus 80 anos, que diariamente nos conta histórias de sua
infância, de seus avós, bisavós, tios, pai e mãe.
Ela
relembra também da própria vida! Das inúmeras dificuldades vividas ao longo de
tantos anos, em especial, quando os filhos eram pequenos. As dificuldades
financeiras. O trabalho duro: na roça e em casa até altas horas da noite para
dar conta de todo trabalho de uma família de seis pessoas. Lavar roupa no rio
sobre uma tábua de madeira, com os filhos pequenos ao redor. Mais tarde lavar
roupa em casa, mas puxando água de um poço com muitos metros de fundura. Não.
Não era meu pai, que fazia este serviço. Era ela mesma!
Manter
as roupas, a casa, as crianças, o marido com roupas limpas, em bom estado,
passadas, além de trabalhar na roça diariamente, levando pela mão os filhos
pequenos, que aos 4 anos ganhavam um
belo presente de meu pai: uma enxada para criança! Uma enxada menor, mas que
era para trabalhar! Sim, meus irmãos mais velhos trabalhavam na roça, como era
comum na época, em famílias da área rural.
Mais
tarde morando na cidade. Outros tempos. Outras dificuldades. Pouco dinheiro.
Doença do meu pai por anos. Aposentadoria por invalidez. Dinheiro cada vez mais
curto. Minha mãe sempre trabalhando como “dona de casa” e costurando para ajudar a pagar as contas da casa e comprar
roupas e outras coisas para nós. Mais tarde, com mais dois filhos pequenos,
precisou se transformar em doméstica! Trabalhou muito! Ia para o trabalho, não
era perto, a pé! Nem quando foi doméstica teve registro em carteira!
O
tempo passou. Mudança de cidade. De Estado. Mais dificuldade financeira! Filhos
adolescentes. Todos morando de favor em casa cedida por um dos irmãos mais
velhos. Minha mãe voltou a costurar. Agora empregada em uma “empresa”, que
nunca a registrou. Ainda trazia costuras pra casa! Ganhava centavos por cada
peça costurada e pagava: as linhas, a energia elétrica! Exploração total! Não,
também não foi registrada em carteira! Isto nos anos 1990 em diante...
Ainda
assim conseguiu, a duras penas, até fazer algumas pequenas reformas na casa,
que morava! Casa que era cedida por um dos irmãos, que havia se mudado para
outro Estado com a família.
Mesmo
havendo trabalhado a vida toda, desde criança no Nordeste, e durante a
juventude, vida adulta e início da terceira idade, não teve direito à
aposentadoria! Tentou até com advogado,
mas não teve direito!!! No País onde, na carta magna, “Todos são iguais perante
a lei”... uns são mais iguais que outros! Uns se aposentam com poucos anos na
vida política e com altos salários, enquanto muitos, como ela, nem se conseguem
se aposentar!
Que
outras lembranças ela tem? E relembra à exaustão? Dos tempos difíceis com meu
pai!
Atualmente
ela conta histórias, negativas, de outras pessoas, que sequer conheço!
Todos
vamos angariando, dia a dia, anos vividos, experiências, que se tornarão histórias, que
serão contadas, recontadas no decorrer de nossa breve existência neste mundo.
Muitos
não as contarão, porque terão suas memórias deletadas pelo Alzheimer ou por
algum outro problema, que pode ocorrer... Somos frágeis e finitos.
Quais
histórias você vai deixar? Quais exemplos seus filhos terão? Exemplos
positivos?
Como
estamos aproveitando este tempo que cai rapidamente como areia em uma enorme (ou
não) ampulheta invisível?
Mario
Quintana resumiu em poucas e poéticas palavras a brevidade da nossa existência:
“O
Tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil
das horas...”
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