“Fotografia
e memória
são enganosas, porém não enganadoras. O que importa não é a
fidelidade
da imagem (mental ou fotográfica) com o fato passado, mas a
conexão
afetiva e
imaginária entre os mesmos.”[1]
(CRUZ, Nina Velasco e)
Já registrei
momentos especiais de minha família! Muitos! Ultimamente alguns a pedido de
irmãos. Como leiga, claro, porque não sou fotógrafa profissional. Sou apenas
alguém que ama fotografar, seja a família, amigos, minha gata, minhas flores.

Quando
este mesmo irmão e sua esposa estavam grávidos do primeiro filho, comprei minha
primeira máquina fotográfica profissional. Estive, no mesmo dia, na casa deles,
claro, não me contive e fiz meus primeiros registros com o novo brinquedinho!
Fotos do casal com o barrigão! Foram várias! Ficaram bem legais!
O
tempo passou e mais um bebezinho veio. E fez aniversário também. Em um dos
aniversários, que fui, levei, como sempre, uma de minhas máquinas. O
aniversariante, então com 2 anos, me puxava pela mão e me chamava para tirar
fotos dele. Ele escolheu alguns lugares, fez poses! Foi muito legal!
Vejam
que este comportamento de meu sobrinho, então com dois anos, mesmo sendo algo
natural, não foi orientado por um adulto, de certa forma foi encenado, por ele
mesmo, ao escolher como queria ser fotografado, onde, portanto “(...), existe
uma tensão constante
na estética fotográfica entre o “isso foi” e o “isso foi encenado” da qual a
fotografia de família não foge.”[2]
Em uma
de nossas viagens ao Mato Grosso, na qual também levei minhas máquinas
fotográficas, tirei várias fotos das sobrinhas netas e do sobrinho neto. Uma
delas, das sobrinhas, me surpreendeu pela beleza nas fotos e pela
espontaneidade diante da câmera! Tudo parecia uma grande brincadeira!
Para
se ter esta relação intimista com os fotografados, claro, um fotógrafo
profissional necessitará de um tempo de “ensaio” junto à família, o que, nos
casos relatados, eu não precisei, pois somos todos da mesma família. No caso de
minhas sobrinhas netas eu já as tinha visto uma outra vez, logo, havia esta
relação de amor própria da família.
CRUZ acredita que um dos principais motivos
para a forma tradicional de fotografia de família sobreviver hoje é justamente
por sua indexicabilidade.
Mesmo com o advento da fotografia digital, este
tipo de fotografia, registro da história familiar resiste, mas atualmente
convivendo registros em mídias, nas quais ficam armazenados, bem como nos
álbuns, muitas vezes, feitos por fotógrafos profissionais, que se
especializaram em registrar um dia, um passeio, uma semana, de uma família.
Há muito tempo a fotografia era algo quase
inacessível para muita gente, devido ao custo das mesmas, pois era uma
tecnologia cara, bem como os fotógrafos eram raros.

Muito provavelmente estes acervos estavam em
álbuns ou então naquelas capas cinzas e grossas e cobertas por um delicado
papel de seda, que contribuía para a conservação desta relíquia, ou seja, da
eternização da família reunida, do jovem casal e seus filhos, dos avós e seus
muitos netos! Não conheci pessoalmente nenhuma destas famílias. Nem conheço suas histórias de vida.
Ao ver a foto da família Moscogliato me veio à
mente certa manhã, na qual caminhava com um grupo de amigos, pela cidade,
pudemos conversar com uma simpática senhora de cabelos muito brancos, que se
debruçou na janela de sua casa, conversou um pouco conosco, depois nos convidou
a entrar e conhecer sua casa. Uma casa antiga, localizada na Avenida General
Telles, de pé direito muito alto, bem ventilada, com móveis antigos, que possui
um porão, no qual se localizam quatro salas de aula. Esta senhora nos levou a
conhecer os fundos do quintal da casa, onde existiam várias árvores frutíferas
e pudemos, então, comer jabuticabas no pé. Em outros dois espaços abertos
também haviam lousas. Quem era esta senhora? Sra. Ana Moscogliato, agora
falecida, ex-professora, que junto com a irmã, Elda Moscogliato fazem parte da
história da educação em Botucatu.
Por
que relatei isto?
Para
demonstrar o quanto uma fotografia é um importantíssimo suporte a nossa
memória, tal como nos ensina Joana Sanches Justo:
“O diálogo que a fotografia
proporciona é, portanto, uma possibilidade de entrar em contato com questões,
de se colocar frente a si mesmo e reconstruir-se, através da imagem fotográfica
que, tal como a imagem nos sonhos, abre caminho para a expressão do sujeito, de
sua subjetividade e dos significados construídos coletivamente pelos grupos dos
quais faz parte.”
Pensando na fotografia digital, que em
sua maioria não são impressas, mas ficam armazenadas em mídias diversas de
duração incerta e duvidosa, pergunto: “O que será de nossas histórias de família, de sociedade, de hábitos, da
moda, se não tivermos um suporte, que nos permita, futuramente, resgatá-las,
revê-las, estudá-las ou admirá-las?”
Referências:
CRUZ, Nina Velasco e. Fotografia
de família e memória:
deslocamentos da
arte contemporânea. Discursos
fotográficos, Londrina, v.7, n.11, p.137-155, jul./dez. 2011
Imagens da
Família Moscogliato, Família Francisco Lopes e Família Paleóloges Guimarães
expostas no MuHP – Museu Histórico e Pedagógico de Botucatu, durante a exposição
Retratos de Família, em junho de 2018.
JUSTO, Joana Sanches. OLHARES
QUE CONTAM HISTÓRIAS: A fotografia como memórias e narrativas da família.
Unesp-Assis: 2008. (Dissertação de Mestrado)
Expediente:
MuHP - Museu Histórico e Pedagógico Francisco Blasi
Av. Santana (dentro do Espaço Cultural), Botucatu, SP
[1]
CRUZ, Nina Velasco e. Fotografia de família e memória:
deslocamentos da arte contemporânea.
Discursos fotográficos,
Londrina, v.7, n.11, p.137-155, jul./dez. 2011
[2]
Idem.
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