Uma
certa secretaria resolveu fazer uma inscrição para contratação de
profissionais. Algo simples. Deveria ser simples! Esta instituição resolveu
inovar e criar um cadastro totalmente “on line”, onde os candidatos fariam todo
o processo de inscrição de forma digital.
Muito
simples!
Os
responsáveis pela área de informática e sistemas, se reuniu, elaboraram o
sistema a ser usado com riqueza de detalhes: formulários para preenchimento das
informações pelo candidato; recursos para upload de arquivos .pdf, .jpg, .bmp
entre outros. Pensaram em tudo!
Sim,
jovens cabeças pensantes! Conhecem tudo de internet, formulários on line, entre
outros recursos mais sofisticados da informática.
Foram
enviadas informações, comunicados às instituições subalternas, para que acompanhassem
o processo e o divulgassem. Tudo resolvido, pensaram, pois imaginaram que a
inclusão digital tivesse ocorrido em 100% da população, ou na maioria dela. Dentro
desta maioria estariam os jovens saídos das universidades, faculdades
presenciais e EAD.
Com o
que as cabeças pensantes do referido órgão não contavam?
Não
pensaram que:
- uma
grande quantidade de jovens saem das escolas, concluem o ensino médio, e até
mesmo a faculdade, ainda continuam com nível de alfabetização básico ou são
analfabetos funcionais.
Este
dado não é recente! Existem muitas pesquisas, que tratam dos níveis de
alfabetização da população. Uma delas disponibilizada pela UOL em 2016,
realizada pelo Instituto Paulo Montenegro, traz muitas informações a respeito
da alfabetização no mundo do trabalho.
Na
manchete do site já traziam a informação alarmante, que era melhor explicada no
primeiro parágrafo:
“...apenas
8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes
de entender e se expressar por meio de letras e números. Ou seja, oito a cada
grupo de cem indivíduos da população.”
Na pesquisa citada realizada pelo Instituto, temos algumas
informações a respeito da alfabetização nos diversos níveis:
“Sobre
o nível de alfabetismo por escolaridade, o estudo destaca os seguintes pontos:
·
Entre
as pessoas que não frequentaram a escola ou têm no máximo quatro anos de
escolaridade, mais de dois terços (68%) permanecem nos níveis do Analfabetismo
Funcional, com 49% chegando ao nível Rudimentar. O nível Elementar é alcançado
por 27% deste segmento; 4% chegam ao Intermediário e 1% atinge o nível
Proficiente.
·
A maior parte dos indivíduos que ingressaram ou concluíram o segundo ciclo
do ensino fundamental atinge o nível Elementar de alfabetismo (53%). Vale
notar, no entanto, que mais de um terço
das pessoas com essa escolaridade (34%) podem ser classificadas como
Analfabetas Funcionais.
·
Entre as pessoas que cursaram até o
ensino médio,
registramos que 48% estão no nível Elementar, 31% no Intermediário e apenas 9% demonstraram o domínio pleno nas
habilidades de leitura, escrita e matemática.
·
A
maioria de quem chegou ou concluiu o superior permanece nos níveis Elementar (32%) e
Intermediário (42%). Somente 22%
situam-se no nível pleno de
alfabetismo.”
Perguntamos se esta massa enorme de pessoas que saiu do Ensino
Superior nas condições acima descritas, no que tange à leitura e escrita, será
que estão plenamente alfabetizados nas tecnologias digitais?
O que ocorreu então com a tal inscrição realizada por esta
secretaria? Não ocorreu como imaginaram, claro!
Alguns problemas que ocorreram:
- os candidatos não conseguiram preencher totalmente o
questionário ou o preencheram de forma equivocada. Quer um exemplo? Onde se
solicitavam informações do perfil do candidato, um deles, pôs uma foto. Será
que foi uma piadinha?
- os candidatos necessitavam fazer o upload de alguns
documentos, para tanto precisariam escaneá-los ou fotografá-los e carregá-los
no site. Como se tratavam de documentos, que seriam conferidos, deveriam
colocar frente e verso. Que fizeram? Carregaram partes dos documentos.
Carregaram só a frente. Carregaram uma página do documento e não as outras duas
ou três.
- não leram as orientações para realizarem todo o processo de
inscrição e não retornaram ao site para ver se a inscrição tinha sido deferida
ou indeferida e perderam, no primeiro momento, o prazo.
Não sou especialista em informática, mas há bastante tempo,
quando eram introduzidos os computadores nas escolas, nos anos 90, tivemos uma
aula, na qual nos mostraram como eram elaborados os programas, que eram
utilizados fluxogramas, visando prever problemas, corrigi-los antes de
acontecerem.
Em educação atualmente se fala em “fazer um PDCA”. Sigla em
Inglês de Plan, Do, Check, Act ou Adjust. Este termo é muito utilizado nas
empresas privadas. Foi importado para a educação!

Será que estas pessoas fizeram o que faz um professor ao
planejar sua aula?
- Fazem um diagnóstico da sala;
- Verificam os conhecimentos prévios de seus alunos
(conhecimento que já trazem)?
- Replanejam suas aulas em função destes conhecimentos prévios;
- Mudam o vocabulário em sala de aula, de acordo com nível dos
alunos.
Em português, quando vamos escrever, pensamos no nosso leitor
virtual, ou seja, uma pessoa real, que não conhecemos, não vemos, mas que lerá
nosso texto, poderá encontrar dificuldades durante a leitura se utilizarmos
palavras muito difíceis.
E o ciclo PDCA?
Façam o que digo. Não façam o que eu faço!
Referência
da imagem:
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