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João Delfiol Construções

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A aquisição da linguagem e a interação social

Há algum tempo escrevi um texto, que postei aqui, falando sobre a aquisição da leitura, citando como exemplos minhas sobrinhas.
Não sou o Piaget, mas gosto de observar as crianças, em especial, nos primeiros anos de vida. Aproveito os momentos com meus sobrinhos, nos quais vivencio suas aprendizagens, observo o como aprendem. Cada ser humano aprende de formas distintas e com ritmos também distintos.
Recentemente, inquieta com a “demora” de uma sobrinha começar a falar, pesquisei um pouco sobre o assunto para acalmar e sanar as dúvidas, que eu tinha sobre o assunto.
Há poucos dias tive a oportunidade de observar um de meus sobrinhos, cuja idade é próxima dos dois anos, que fala poucas palavras, muitas que não entendemos, mas que utiliza um método interessante de aprendizado. Ele gosta muito dos DVDs de música, o Palavra Cantada, que tem músicas infantis, com letras simples e visual bem colorido, com pessoas e animações também.
Quando ele quer assistir este DVD tenta falar o nome, mas não sai, então ele vai até onde se encontra a coleção de DVDs e aponta indicando o objeto de seu desejo. Ao ter os volumes em mãos, novamente aponta qual deles, quer ouvir.
O exemplo dado acima é um dos exemplos citados na abordagem da pragmática que relaciona os aspectos fonológicos, semânticos e sintáticos da linguagem do ponto de vista do contexto onde ela ocorre. Neste caso se entende o tema sem que a criança verbalize a sua vontade.
Durante a exibição das músicas, seja sentado no sofá, em pé, ou pulando no chão da sala, segue cantando as músicas do jeito dele. No final de cada verso repete, com fala correta, a última palavra, assim segue cantando e aprendendo novas palavras. O ritmo ele acompanha, tanto que ao final do verso a palavra sai magicamente de sua boca.
Meu sobrinho está adquirindo a fala, por meio da interação com a fala de outros, no caso de adultos, que são os cantores da dupla Palavra Cantada, cujas músicas tenta repetir, assim vai adquirindo as palavras, bem como com a interação com os adultos da família e amigos com os quais se relaciona, além do irmão, de quatro anos, que já fala muito bem a Língua Portuguesa.
No momento de aquisição da linguagem no qual se encontra, como os versos da música se encontram em um nível superior ao dele, ele vai repetindo as palavras finais e adicionando-as ao seu vocabulário.
Como a audição do DVD não permite momentos de interação entre os adultos cantores e a criança, ele vai aprendendo as palavras finais de cada verso. Se a canção fosse cantada por um adulto, em situação real de interação, provavelmente o adulto cantaria a música mais devagar, iria ensinando a ele os versos, as palavras mais difíceis e por meio desta repetição aprenderia os versos.
Segundo Bruner esta interação entre adulto e criança promove o scaffolding (edificação), na qual ela vai construindo de forma progressiva comunicações funcionalmente mais efetivas e formalmente mais elaboradas, ou seja, cada vez mais a comunicação da criança com o adulto obterá mais sucesso, cada vez mais irá elaborando sua fala, a escolha das palavras, ampliando seu repertório, utilizando-se de frases, orações, períodos.
Não há dúvidas que a interação entre a criança e o adulto é parte imprescindível do desenvolvimento da criança, pois possibilita a ela o aprendizado da língua falada e de outros conhecimentos contextualizados, ou seja, aprendidos durante uma dada situação real.
Para demonstrar esta necessidade de interação basta lembrarmos da história, muito conhecida, de Amala e Kamala, duas irmãs, que foram abandonadas na floresta, na Índia, que na infância não tiveram a convivência com seres humanos, mas com lobos. Foram encontradas em 1920, nesta época Amala tinha um ano e meio e Kamala tinha oito anos. Após serem encontradas a primeira viveu mais um ano e a segunda viveu até 1929.
Esta falta de interação entre estas crianças e adultos humanos trouxe a elas outros aprendizados e se refletiram para o resto de suas vidas. Devido ao fato de viverem com lobos, aprenderam a andar de quatro como os animais; não desenvolveram a fala, pois não interagiram com humanos falantes, desta forma os sons que faziam eram grunhidos, uivos, parecidos com os dos lobos. Segundo materiais pesquisados, para esta postagem, Kamala aprendeu cerca de 50 palavras, demorou seis anos para aprender a andar e chorou a primeira vez, quando a irmã morreu.

Por que busquei esta história? Para que vejamos a imprescindibilidade da vivência das crianças com adultos, bem como da necessidade da interação para a aprendizagem e o desenvolvimento pleno da criança. 

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