Há algum tempo escrevi um
texto, que postei aqui, falando sobre a aquisição da leitura, citando como
exemplos minhas sobrinhas.
Não sou o Piaget, mas gosto de
observar as crianças, em especial, nos primeiros anos de vida. Aproveito os
momentos com meus sobrinhos, nos quais vivencio suas aprendizagens, observo o
como aprendem. Cada ser humano aprende de formas distintas e com ritmos também
distintos.
Recentemente, inquieta com a
“demora” de uma sobrinha começar a falar, pesquisei um pouco sobre o assunto
para acalmar e sanar as dúvidas, que eu tinha sobre o assunto.
Há poucos dias tive a
oportunidade de observar um de meus sobrinhos, cuja idade é próxima dos dois
anos, que fala poucas palavras, muitas que não entendemos, mas que utiliza um
método interessante de aprendizado. Ele gosta muito dos DVDs de música, o
Palavra Cantada, que tem músicas infantis, com letras simples e visual bem
colorido, com pessoas e animações também.
Quando ele quer assistir este
DVD tenta falar o nome, mas não sai, então ele vai até onde se encontra a
coleção de DVDs e aponta indicando o objeto de seu desejo. Ao ter os volumes em
mãos, novamente aponta qual deles, quer ouvir.
O exemplo dado acima é um dos
exemplos citados na abordagem da pragmática que relaciona os aspectos
fonológicos, semânticos e sintáticos da linguagem do ponto de vista do contexto
onde ela ocorre. Neste caso se entende o tema sem que a criança verbalize a sua
vontade.
Durante a exibição das
músicas, seja sentado no sofá, em pé, ou pulando no chão da sala, segue
cantando as músicas do jeito dele. No final de cada verso repete, com fala
correta, a última palavra, assim segue cantando e aprendendo novas palavras. O
ritmo ele acompanha, tanto que ao final do verso a palavra sai magicamente de
sua boca.
Meu sobrinho está adquirindo a
fala, por meio da interação com a fala de outros, no caso de adultos, que são
os cantores da dupla Palavra Cantada, cujas músicas tenta repetir, assim vai
adquirindo as palavras, bem como com a interação com os adultos da família e
amigos com os quais se relaciona, além do irmão, de quatro anos, que já fala
muito bem a Língua Portuguesa.
No momento de aquisição da
linguagem no qual se encontra, como os versos da música se encontram em um
nível superior ao dele, ele vai repetindo as palavras finais e adicionando-as
ao seu vocabulário.
Como a audição do DVD não
permite momentos de interação entre os adultos cantores e a criança, ele vai
aprendendo as palavras finais de cada verso. Se a canção fosse cantada por um
adulto, em situação real de interação, provavelmente o adulto cantaria a música
mais devagar, iria ensinando a ele os versos, as palavras mais difíceis e por
meio desta repetição aprenderia os versos.
Segundo Bruner esta interação
entre adulto e criança promove o scaffolding
(edificação), na qual ela vai construindo de forma progressiva comunicações
funcionalmente mais efetivas e formalmente mais elaboradas, ou seja, cada vez
mais a comunicação da criança com o adulto obterá mais sucesso, cada vez mais
irá elaborando sua fala, a escolha das palavras, ampliando seu repertório,
utilizando-se de frases, orações, períodos.
Não há dúvidas que a interação
entre a criança e o adulto é parte imprescindível do desenvolvimento da
criança, pois possibilita a ela o aprendizado da língua falada e de outros
conhecimentos contextualizados, ou seja, aprendidos durante uma dada situação
real.
Para demonstrar esta necessidade
de interação basta lembrarmos da história, muito conhecida, de Amala e Kamala,
duas irmãs, que foram abandonadas na floresta, na Índia, que na infância não
tiveram a convivência com seres humanos, mas com lobos. Foram encontradas em
1920, nesta época Amala tinha um ano e meio e Kamala tinha oito anos. Após
serem encontradas a primeira viveu mais um ano e a segunda viveu até 1929.
Esta falta de interação entre
estas crianças e adultos humanos trouxe a elas outros aprendizados e se
refletiram para o resto de suas vidas. Devido ao fato de viverem com lobos,
aprenderam a andar de quatro como os animais; não desenvolveram a fala, pois
não interagiram com humanos falantes, desta forma os sons que faziam eram
grunhidos, uivos, parecidos com os dos lobos. Segundo materiais pesquisados,
para esta postagem, Kamala aprendeu cerca de 50 palavras, demorou seis anos
para aprender a andar e chorou a primeira vez, quando a irmã morreu.
Por que busquei esta história?
Para que vejamos a imprescindibilidade da vivência das crianças com adultos,
bem como da necessidade da interação para a aprendizagem e o desenvolvimento
pleno da criança.
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