Você já parou para observar as árvores? Quando eu
morava em uma cidade grande, próxima à capital do Estado de São Paulo,
observava as poucas que haviam nos bairros onde eu circulava. O bairro onde
morava, minha antiga rua, curta de dois quarteirões, calçadas estreitas,
irregulares, sem espaço para árvores, pois atrapalhariam as garagens. Uma vez
tivemos em uma casa vizinha, um pequeno pé de ipê amarelo, que se erguia
teimoso, naquele pedacinho de terra, onde estava plantado. Subiu fininho, deu
suas folhas verdes, um dia suas belas flores amarelas, deixaram-no dourado,
vistoso. Não durou muito! Ele não existe mais! Somente uma foto dele restou,
assim, jovem, mas acreditando na vida, vestido de amarelo pulsante.
Aqui onde moro atualmente observo mais as árvores,
que ainda são bastantes espalhadas pela cidade. Aqui também há ipês de muitas
cores: amarelo, rosa, roxo, branco.
Observo muito os ciclos destas árvores. Durante o verão elas se cobrem
de verde, que cobre sua copa, disfarça seus galhos tortos, típicos de plantas
do cerrado, que sofrem pelos longos períodos de seca. Quando suas folhas caem,
estes longos galhos escuros, parecem mortos, sem vida. Assim ficam por um
tempo... esquecidos, feiosos, nada atraentes. Passa-se o tempo, as primeiras
flores aparecem, pintando de rosa os galhos secos. O rosa vai se misturando ao
marrom, aos poucos cobrindo-o, mostrando a força da beleza da cor, a força da
natureza que adormecia, aguardando o momento certo para se mostrar.
Estamos vendo, nem todos, este começo de metamorfose
dos ipês espalhados pelas ruas. Primeiro florescem os ipês rosas com sua
delicadeza, cor amada pelas mulheres, meninas.
Depois de doarem a todos os homens e mulheres sua
beleza, sua cor, sua exuberância, cumprem o seu ciclo vital, as flores caem, cobrem
o chão, formando um tapete para os pedestres, tingem de rosa o duro e frio
concreto, cimento, cinza.
Mas ei que surgem pela cidade outros irmãos ipês, os
amarelos ou os roxos ou os brancos para assumirem o palco, para representarem
seu papel, para presentearem todos nós com suas flores, com sua beleza.
Que não passemos taciturnos pelos espetáculos diários
da vida!
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