(Homenagem à FAFIPA - Paranavaí - PR)
Caminho por estes corredores há mais de vinte anos. Sou professor universitário e fui aluno desta Universidade.
Todas as vezes que caminho por aqui, observando as pessoas, outras vezes ouvindo o silêncio da ausência delas, fico pensando em suas histórias de vida.
Quando a faculdade está em atividades normais, aulas, palestras, cursos, isso tudo implica em uma incessante movimentação de pessoas que vão e vêm, andando apressadas, pensativas, entrando e saindo de salas de aula, auditórios, laboratórios. Além disso, desse caminhar apressado, há também o falar, o conversar muito e em voz alta para se fazer ouvir diante das outras inúmeras vozes, que soam e se misturam nos corredores, no pátio, nas escadas, elevadores.
Mas o que têm em comum essas pessoas? De onde vêm e para onde vão? Quais seus objetivos? Quais seus sonhos?
Durante estes mais de vinte anos que convivo com essas pessoas, como aluno que fui, docente que sou agora, fui aprendendo a responder algumas dessas perguntas, seja observando as pessoas pelos corredores, pelas salas, seja pelo retorno de ex-alunos, agora amigos, que respondo a essas questões.
As histórias de vida se chocam, interagem, se interligam.
Alguns alunos e alunas namoraram durante o período de curso, conseguiram levar o relacionamento adiante, amadureceram intelectualmente e emocionalmente até se casaram, constituíram família, tiveram seus filhos.
Outros também se relacionaram com várias pessoas, porém não conseguiram durante estes três, quatro, cinco anos de curso solidificar uma dessas relações, por isso continuaram fora daqui a busca pela realização emocional, pessoal.
Houve também professores, seres humanos, que também construíram relações com seus ex-alunos, relações de amizade, de cooperação, que ultrapassaram os muros da escola.
Alunos que conseguiram encontrar em seu professor um amigo, um apoio, que muito além de ensinar a matéria, dedicou-lhes tempo, atenção, vida.
Esse professor conseguiu enxergar no aluno, mais do que aquele ser absorto (as vezes perdido) durante suas explanações, viu nele o ser humano, com problemas, com aspirações, com limitações, com potencial também. Em função disso, mudou sua prática, investiu em uma aula dialógica, em interação.
Eu também mudei! Mudei muito!
Não sou mais aquele jovem, que circulava pelos corredores paquerando as garotas, torcendo o pescoço para olhá-las e apreciá-las, bem como jogar um “xaveco”. Como estou antigo, não é? É o tempo passou!
Agora aqui, diante de vocês, está um senhor de exatos cinqüenta anos, completados esta semana, que por isso mesmo volta-se para si, volta-se para a vida, refletindo sobre sua história, sobre a história dessa Universidade.
Minha história pessoal está entranhada nesses tijolos, que sustentam esse prédio. Está nas frondosas árvores do entorno. Está nos documentos do meu prontuário. Nos prontuários dos alunos.
Mais que isso tudo, minha história está repleta da vida dessas pessoas, alunos e ex-alunos, que passam e passaram por mim. Eu estou também nas mentes deles, nas páginas de seus cadernos amarelados pelo tempo, em suas fotos, igualmente amareladas.
Somos testemunhas da história que construímos juntos. Somos protagonistas diariamente dessa história, que continua em construção.
50 anos... meus 50 anos e os 50 anos da universidade. E agora?
Vamos continuar cotidianamente construindo e contando nossa História.
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