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João Delfiol Construções

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Contos de fadas, salário digno e magistério


Sempre pensei o que seria um salário digno. Há o que diz a constituição a respeito do salário mínimo que “...capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim” (CF 1988, Cap.II, Art. 7°, item IV).

Só lendo isto, comparando com a realidade nacional, principalmente a nossa pessoal, temos a plena consciência que o salário mínimo pago atualmente não atende a todas as necessidades expressas na Lei.

Moro atualmente em uma cidade onde o aluguel de uma edícula de três minúsculos cômodos custa R$ 350,00. Uma despesa mínima para duas pessoas, sem supérfluos (iogurtes, frios e embutidos, doces e bolachas), sem carne, nem frutas, nem legumes, custa (dependendo do supermercado) R$ 280,00. Se esse mesmo casal trabalhar em um local que exija apenas uma condução, deve-se somar mais R$ 160,00 (valor de duas passagens de ônibus por dia para cada um deles). Já temos em nossas contas: R$ 790,00!!!

Tudo isso pra dizer a distância que há entre a lei e a realidade. Mas voltemos ao salário digno.

Recentemente assistimos na televisão, nos telejornais, a discussão do aumento de salários do Judiciário. Durante essas matérias, assisti uma fala do Senador Wellington Salgado (PMDB/MG), que definiu pra mim o que é um salário digno: R$ 26.000,00! É o que vão ganhar os Ministros do STF e membros do Ministério Público Federal. Na ocasião o citado parlamentar defendia o aumento para si mesmo e para seus pares.

Tenho quinze anos como professora e meu salário base é de: 954,79 até fevereiro desse ano. Depois há as gratificações, adicionais, mas vêm junto com isso os descontos: imposto de renda, contribuição previdenciária, assistência médica, sendo que essas deduções não são calculadas pelo salário base, mas pelo salário bruto.

No meu caso, tenho duas faculdade (ambas pagas), uma pós graduação pela Unicamp, inúmeros cursos de atualização que fiz em serviço ou fora dele. Há também casos de professores com mestrado, como meu marido. Também com duas faculdade, duas pós graduações, um mestrado, livro publicado.

Por que o salário digno do Senador Wellington Salgado não pode ser também o salário dos professores?

Somos permanentemente cobrados e culpabilizados pela mídia pelas mazelas da educação em nosso país. Por que no momento de falar do aumento de salário dos Ministros do STF a mídia também não relembrou a todos nós, como a justiça nesse país é demorada?

Enquanto a educação no Brasil não for prioridade de fato, não apenas no discurso, continuaremos a assistir a propaganda do MEC, clamando aos jovens que vão para o magistério. Continuará acontecendo o que aconteceu com uma faculdade de Santo André, como outras pelo país a fora, onde cursos de licenciatura foram fechados por falta de interessados.

Aquela propaganda mostrando uma professora bem vestida, animada, com os aluninhos comportadamente sentados em frente à escola, na escadaria, aguardando pacientemente a chegada da professorinha (cena típica dos álbuns de fotografias de 40 anos atrás ou mais!) vai continuar sendo inútil.

Acredito que a melhor (e a pior) propaganda acontece no boca a boca e no exemplo real. Os alunos (possíveis candidatos ao magistério) vivem a realidade, não em contos de fadas.

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