Adoro
tecnologia, não sou fanática a ponto de trocar de celular a cada novo
lançamento, assim não poluo ainda mais este planeta, nem gasto meu dinheiro com
algo que, de fato, não esteja precisando.
Gosto
de novidades! Gosto do whatsapp, porque me permite comunicação instantânea (ou
quase) e em muitas situações isto ajuda muito.
Mas
respeito reuniões, mais que isto respeito as pessoas, que, em algum momento,
estão falando, expondo suas ideias, dando informações. Por respeitá-las
mantenho meu celular no silencioso, não fico respondendo mensagens, acessando
Facebook, nem respondendo mensagens, que podem ser respondidas em outro
momento.
Como
educadora sempre pensei, agia assim com meus alunos, que não poderia cobrar
deles, o que eu não realizasse, não desse o exemplo.
Sempre
observei muito as crianças com as quais convivo. Observo, porque acho muito
interessante a fase da primeira infância, quando a criança começa a aprender em
contato com sua mãe, pai, irmãos, tios, tias.
Nesta
fase a criança vai aprendendo porque tem um cérebro, cujas capacidades
intelectuais são imensas. Aprende a falar rapidamente e vai adquirindo e
incorporando uma quantidade espantosa de vocabulário. Aprende a andar, primeiro
meio cambaleante, mas rapidamente se firma e passa a correr com destreza como
se fizesse isto há muito tempo.
Além
destas aprendizagens, imprescindíveis para o resto da vida, ela vai aprendendo
hábitos e atitudes. Esta aprendizagem tanto pode se dar no seio da família,
seja na escola, pois atualmente, por necessidades dos pais, elas iniciam a vida
escolar cada vez mais cedo.
Como
elas aprendem hábitos, valores e atitudes? Pelo exemplo. Não basta apenas falar.
Há uns nove anos mais ou menos, uma de minhas sobrinhas, com cerca de um ano,
nos mostrava isto. Ela amava comer bananas. Gostava de outras frutas, mas esta
era sua preferida. Muitas vezes a vimos comer a banana, depois ir até um canto
da cozinha, onde estava a lixeira, abrir a tampa e colocar lá a casca da
banana, que havia comido. Além de se falar isto para ela, o que é importante,
ela via todos os adultos da casa repetirem este gesto. Terminavam de comer uma
fruta, uma pizza, um frango, se dirigiam até a lixeira e repetiam esta ação:
jogar as sobras no lixo.
Já
vi, em outras ocasiões, aprendizagens, que também ficarão para o resto da vida,
mas que trarão problemas para o adulto. Certa vez vi uma mãe/avó com seu “pimpolho”
esperando o ônibus, como o coletivo esta demorando, o menino sentiu vontade de
fazer xixi, a adulta com o “telencéfalo altamente desenvolvido”*, abaixou as
calças do moleque, chegou-o perto do poste mais próximo e mandou que ele
esvaziasse a bexiga ali mesmo! Diante de todos!
Anteontem
entrei em uma sorveteria, no final de tarde, onde já estavam algumas pessoas.
Entre elas, uma senhora, avó, e seu netinho. Eu estava bem perto saboreando meu
delicioso sorvete, naquela tarde tão quente. Assim que a vó sentou, ficaram por
ali aguardando o pedido, o menino, de uns dois anos, no máximo três, olhou do
lado direito, depois falou para a avó “A torneira está aberta”. Eu, que até
então não tinha observado, verifiquei que em frente havia uma pequena pia, onde
havia uma torneia, que a mesma estava parcialmente aberta, desperdiçando água.
Após esta fala da criança, achei que a distinta senhora se dirigiria até a pia
e fecharia a torneira. Esperei alguns minutos e nada! Não fui fechá-la, porque
queria ver o desenlace desta cena: uma criança tentando conscientizar um
adulto. Como demorasse e a avó não tomasse nenhuma atitude, o garotinho pediu
para lavar as mãozinhas. Então a avozinha se levantou, levou-o até a pia,
ergueu-o e ele molhou as mãos. Depois disto a mulher fechou a torneira. Ambos
voltaram ao lugar e sentaram-se para esperar pelo sorvete. Quem estava
ensinando quem? Quem deveria ensinar quem?
Por
que lancei mão destes exemplos?
Vamos
voltar ao primeiro parágrafo deste texto. Como exigir de crianças e de adultos,
que utilizem o celular adequadamente, que o desliguem nas reuniões, que os
deixem no silencioso, que prestem atenção às informações, se nós, no mesmo
ambiente ou em situação análoga, pegamos o aparelhinho, deslizamos nossos dedos
rapidamente pela tela, vamos passando nossos olhos pelo “whatsapp”, pelo gmail,
pelo facebook, enquanto outros, a nossa frente, ao nosso redor estão expondo
suas ideias, opiniões? Como cobrar dos outros o que não fazemos? Vale a velha
frase “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”?
*Citação do Filme Ilha das
Flores, roteiro de Jorge Furtado, dezembro/1988
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