Todos os anos a
mídia faz reportagens no início do ano sobre a compra de materiais escolares,
dicas de como reduzir os custos com a compra destes materiais. Neste ano, isto
também ocorreu!
Assisti uma
destas reportagens! Entre outras coisas mostrou uma diretora de escola
particular, que fala, empoladamente, que a própria escola orienta os pais a
reutilizarem os materiais, porque preza a #sustentabilidade.
Na mesma reportagem
mostrou um grupo de mães/pais/responsáveis, que se organizam no início do ano
para realizar trocas de materiais, em especial livros didáticos e apostilas, claro,
visando diminuir gastos.
Vejo estas
reportagens e lembro, claro, de histórias vividas pela nossa família! Penso nos
meus pais, quase sem estudos, meu pai
estudou, acho, até o segundo ano primário. Minha mãe nunca estudou em escola
formal. Mesmo assim praticavam a sustentabilidade, mesmo sem saber que o
faziam, pois naquela época este termo nem existia!
Éramos em quatro
irmãos, com idades muito próximas, cerca de um ano e pouco a dois anos entre um
filho e outro, como era comum naquela época, na qual o país precisava de braços
para trabalhar na roça.
Com idades tão
próximas a vida escolar, claro, também era próxima! Isto aliado à falta de
recursos financeiros ensinava-os a diminuir custos! Não faziam planilhas. Não
faziam contas, nem cálculos exorbitantes!
Quais eram as
técnicas então?
Livros didáticos
eram sempre os mesmos, pois não havia o PNLD, que distribui livros à vontade! Os
pais tinham que comprar! Não importava, se tinham dinheiro ou não. Os livros
não eram consumíveis, ou seja, a gente não escrevia neles, desta forma,
terminávamos o ano com os livros bem cuidados! Também não pegávamos nosso material
escolar, ao final do ano, e rasgávamos e jogávamos diante das escolas para
comemorar o final do ano letivo!
No início do ano
letivo seguinte os livros eram transmitidos para o irmão mais novo, que os
utilizaria novamente e no próximo ano, provavelmente, o entregaria para o outro
irmão.
E não eram
somente os livros, que eram entregues ao irmão!
Cadernos parcialmente
utilizados eram reutilizados também! Retiravam-se as folhas usadas, arrancavam-se,
caso houvessem, as etiquetas e eram coladas novas para identificar o proprietário
do material.
Você pode
perguntar, mas e os lápis, canetas, lápis de cor?
Também eram
reutilizados!
Se o filho mais
velho ganhasse uma caixa de lápis de cor nova, com mais lápis, a antiga era
entregue ao irmão mais novo, que a utilizaria, com o mesmo cuidado e zelo, pois
sabia, que a entregaria ao irmão mais novo!
E o uniforme?
Sim, usávamos uniformes.
Também não se perguntava se a família podia comprar ou não. Eram entregues no
começo do ano orientações quanto ao esporte, um desenho de como DEVERIA ser o
uniforme, onde deveria ficar o emblema da escola, a família que se virasse para
providenciar os uniformes de seus filhos. Você deve estar pensando, que muita
gente não usava... Será?
Os pais tinham
suas técnicas para driblar suas dificuldades financeiras e manter seus filhos
na escola, pois valorizavam muito os estudos e isto era um mantra repetido às
crianças!
O uniforme, no
caso das meninas, a saia já era feita com uma barra generosa, que ia descendo com
o passar dos anos. Claro que ela desbotava! O tecido da saia, quando estudei,
era um tergal azul, mais grosso, com as muitas lavagens no decorrer do ano e a secagem ao sol, como
era comum, ia desbotando o tecido. Isto não nos impedia de usá-la no ano
seguinte! Era legal? Tinha bullying? Não me lembro de ter passado vexame, pois
não era a única a usar a mesma saia do ano anterior.
E os meninos? As
barras das calças também eram ajustadas!
E quando não
servia mais? A criança havia crescido, engordado?
O uniforme era
utilizado pelo irmão mais novo.
E a bolsa?
Mochila não existia. Quem tinha bolsa era chique! Esta era reutilizada no ano
seguinte! Pela mesma criança ou pelo irmão mais novo, caso o mais velho
ganhasse de presente uma bolsa nova. Presente? Sim, presente! Os presentes em
nossas vidas eram raros! Não se ganhavam presentes de dia de aniversário, dia
das crianças, dia de natal, dia disto, dia daquilo outro.
Somos
traumatizados?
Acho que não.
Aprendemos a dar valor nas coisas, que são adquiridas com esforço, muito, muito
esforço, muito suor e lágrimas!
Meus irmãos mais
novos, com quatorze anos de diferença, ainda vivenciaram um pouco disto, porque
a vida ficou mais difícil ainda. Tiveram algumas benesses, que nós, os mais
velhos, não tivemos, mas também tiveram que reutilizar roupas e calçados.
Quem ensinou
meus pais a reutilizar os materiais didáticos, roupas, calçados? A televisão? O
diretor da escola? O especialista em educação financeira? O cara que fez
faculdade de economia?
NÃO! NÃO! NÃO!
Quem ensinou-os
foi a dificuldade. A falta de dinheiro para esbanjar. O dinheiro contado.
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