Tem gente que
acha que vida de professor é fácil. Ouvia, antes mesmo de iniciar minha vida
profissional, que ser professora seria muito bom. Trabalharia só meio período.
Teria tempo para fazer outras coisas.
Iniciei minha
carreira profissional com poucas aulas. Morando em um Estado e trabalhando em
outro. Atravessando um rio de balsa todos os dias. Isto eu que tenho paúra de
água em grande, enorme quantidade. Tive que vencer este medo!
Não foi só isso.
Poucas aulas. Ganhava pouco. Precisava ajudar minha família. Pagar ônibus. Se
pagasse ônibus de linha para ir e vir, claro, não me sobraria muita coisa.
Dormi de favor em casa de parentes. Em uma república com pessoas, que mal
conhecia, mas que foram muito generosas comigo.
Pegava caronas pra voltar pra casa e economizar dinheiro! Sorte que um
amigo, cursou faculdade mais ou menos na mesma época, também professor da mesma
disciplina, pegava carona comigo, assim eu me sentia mais segura. Caronas com
caminhões de fazendas. Caminhões de boi. Caminhões, que levavam caixões de
defuntos. Com vendedores, que atravessavam entre um Estado e outro para também
ganhar o pão de cada dia.
Um pouco mais
tarde nos mudamos de uma cidade pequenina para uma cidade centenas de vezes
maior. Fui lecionar onde? No centro? Claro que não! Na periferia. Em uma
escola próxima a várias favelas!
Passamos por momentos de muito medo! Toque de recolher no bairro imposto por
bandidos. Todos nós indo pra casa com medo, alunos aterrorizados! Também
vivenciei situações de medo dentro da escola, como certa vez, lecionando no
noturno e, do nada, um policial abriu a porta da minha sala e com arma, fuzil,
em mãos olha pela sala como se estivesse procurando alguém.
Vimos, certa
vez, um aluno que, ao tentar ir embora, após o término das aulas não pode sair
da escola, porque a “favela” baixou na escola! Não sei o que ele fez, mas ele
só não foi morto, porque uma funcionária fechou os portões e trouxe-o de volta
para dentro. Como fomos embora? Em comboio de carros de professores. Que não
tinha carro, meu caso na época, pegava carona. Ninguém saiu só! Todos ficaram
até todas as portas da escola estarem fechadas e todos saímos juntos!
Fácil ser
professor, né?
Quando era
professora contratada, pensava, sonhava em me efetivar! Pensava, que os finais
de ano apreensiva e com receio de perder as aulas, o emprego, passaria. Por um
bom tempo não tive mais esta preocupação. Me efetivei! Fui muito bem
classificada no concurso, que prestei. Escolhi a escola, onde já trabalhava,
razoavelmente perto de casa.
Cheguei a ver
professores chorando no final do ano por não saber se no ano seguinte teriam
emprego! Todo final de ano era isto! A maioria de nós era contratada!
Agora, neste
ano, quando teria tempo e idade para me aposentar... uma rasteira dos governos!
Não vou me aposentar! “Ganhei” mais anos para trabalhar! Não que não goste de
trabalhar, gosto.
Já há alguns
anos docentes como eu, afastados na mesma secretaria, atuando em atividades
relacionadas ao magistério não têm aulas atribuídas. Tem ano que sim. Tem ano
que não. Dependemos de quem está no governo e quais as intenções destes! Todo
final de ano ficamos sem saber como será nossa vida!
Neste ano não
foi diferente. Em um dia íamos ter aulas atribuídas. No dia seguinte? Não mais!
O que isto significa? Uma razoável possibilidade de, caso eu retorne para a
escola, não tenha aulas. Alguém pode ter ampliado sua jornada com elas. Para eu
vir para a escola onde estou passei por muita, muita, muita coisa! Nada me veio
sem muito estudo, sem muito esforço, sem muito, muito trabalho! Muitas horas
extras feitas e nunca recebidas! Não ganhei a vaga no concurso público por
indicação de político nenhum! Nunca fui apadrinhada por ninguém! Nem queria
ser! São cerca de vinte e sete anos de trabalho árduo! Foram 11 anos de
educação básica. 6 anos, duas faculdades CURSADAS PRESENCIALMENTE! Foram duas
pós graduações cursadas! Estou na terceira! Cursos de curta duração? Tenho uma
pasta preta cheia de certificados destes cursos de atualização. Fora os muitos
que fiz, que não foram certificados, por ocorrerem em horário de trabalho, os
chamados cursos de formação em serviço.
Ah, não nos
esqueçamos dos diversos concursos públicos, que prestei e passei! Os dois
últimos com excelente classificação!
Para a
professora indelicada, que acha que só se trabalha se estiver em sala de
aula... sinto muito desagradá-la, mas se trabalha, e muito fora dela também! O
Diretor da escola trabalha muito para que os professores tenham uma escola bem
cuidada, que não sejam incomodados durante suas aulas, que tenham materiais
didáticos e pedagógicos, mesmo em tempos de vacas magras! O coordenador? Ah,
este também trabalha e muito! Trabalha inclusive para providenciar os materiais
que, você, professora, as vezes, solicita de última hora para usar na sua aula.
O secretário da escola? Este também trabalha e muito! Trabalha para que seu
pagamento não atrase! Para que sua vida funcional esteja em ordem! Para que
você possa receber vantagens previstas em lei, mas que não aparecem no seu
holerite por um toque de varinha mágica! Não, não é o sistema que faz seu
pagamento! São pessoas! São profissionais!
Todos estes,
muitos mais, estão fora da sala de aula, mas dando todo um amparo e apoio para
que o seu trabalho, professora indelicada, possa acontecer!
Estes
profissionais, todos eles, que ficam “nos bastidores” MERECEM RESPEITO!
Eu também
Professora com carteirinha do MEC, só para você ver, que não comecei agora...
TAMBÉM MEREÇO RESPEITO!
Professora
indelicada, meça suas palavras!
Respeito é bom!
E eu gosto!
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