Tenho
observado muitos idosos nos corredores da Unesp. E crianças também. Os idosos
têm me chamado a atenção, pois minha mãe, também, idosa, teve uns problemas de
memória recentemente.
Ela
teve uma vida duríssima. Nunca estudou em escola formal, o que significa dizer,
que nunca entrou em uma escola. Quando criança, meu avô, no agreste do Pernambuco,
optou por estudar somente a filha mais nova, que não prosperou nos estudos.
Para minha mãe, ao que soube, foi pago uma professora para ensinar as primeiras
letras, desta forma, ela lê decodificando, escreve pouco. Quando era mais
jovem, escrevia mais e lia mais, porque por algum tempo foi costureira e usava
a escrita e a leitura para fazer registros das medidas das roupas de suas
clientes.
Não.
Nunca estudou corte e costura. Aprendeu a costurar na roça, quando se casou com
meu pai e teve que costurar as roupas dele, à mão, além de ajuda-lo na lavoura,
lavar, passar, cozinhar, tirar água do poço e cuidar de quatro filhos. Apesar
disto, costurava muito bem. Bordava muito bem, tanto à mão quanto na máquina de
costura. Fazia crochê com excelência.
Por
que digo fazia? Com o tempo e a vida mais dura ainda, deixou estes afazeres, que
foram esquecidos, apagados de sua memória. Recentemente tentei que ela
retomasse o crochê, ao menos para ocupar a cabeça e passar o tempo. Por pouco
tempo deu certo. Comprava toalhas de mão, guardanapos, linhas e ela crochetava
biquinhos nestes panos, que eu ia dando de presente as minhas cunhadas. Fiquei
com alguns. Minha mãe também. Ela acabou “se enchendo” e parou com os panos e
as linhas.
Leitura?
Lê somente a bíblia. Após a morte de meu pai se tornou evangélica e isto fez
com que a única leitura dela fosse esta.
Não
conseguiu aprender a usar o celular. Já tentou algumas vezes. Há cerca de um
mês um de meus irmãos deu um celular mais simples para ela. Com números
grandes, pois ela tem dificuldades visuais. Usa óculos. Aparentemente não
conseguiu, até o momento, atender nenhuma ligação dele.
Como
falava observo outros idosos no corredor do hospital da Unesp, algumas vezes.
Outro dia vi um senhor, que aguardava consulta. Ele estava ao meu lado, por isto
pude observar muito bem o que fazia. Enquanto esperava, utilizava um celular,
destes que se toca na tela para acessar os aplicativos, tipo ipad. Acessou o
facebook. Deu uma lida em algumas coisas no jornal. Fazia isto com muita
facilidade e habilidade. Não conversamos, mas quase posso afirmar, que este
homem, no decorrer de sua vida, foi um leitor ativo, ainda o é, tanto, que
utiliza o celular para se informar, não apenas para banalidades.
Outro
dia vi uma idosa, que esperava ser chamada para a consulta, como muitos também
manuseava um aparelho de telefonia móvel. O que ela estava fazendo? Jogando
cruzadas, usando um aplicativo.
Poderia
citar inúmeros exemplos.
O que
diferencia minha mãe destas pessoas? A leitura!
Minha
mãe se distanciou cada vez mais dela. A leitura dela foi ficando cada vez mais restrita! Antes de se
tornar evangélica, ainda demonstrava interesse em ler uma revista. Hoje em dia
nem isto!
Sem a
leitura fluente ficamos alheios ao mundo da informação, que nos cerca! Sem a
leitura fluente, se quer podemos dirigir um carro, pois em uma rodovia a
velocidade para a leitura de placas, que se exige do motorista, não permite
decodificação letra por letra.
Quando
adolescente li alguns clássicos da literatura brasileira, que eram solicitados
na escola. Esta leitura nos obrigava uma consulta constante ao dicionário,
devido ao tipo de vocabulário das narrativas.
Com o
passar o tempo estes livros tiveram sua escrita adaptada para jovens, o que
corresponde dizer, que tornaram a escrita mais simples e acessível. Muitos
alunos passaram também a ler somente os resumos e não as obras originais.
E você
que está lendo este texto. O que está fazendo pela sua memória? Teve dificuldades
para entender o conteúdo desta postagem? Procura ler diariamente? Procura
pesquisar os significados das palavras que desconhece?
Não
pode falar que não tem dicionário e nem tempo. Os dicionários on line estão na
web disponíveis para consultas rápidas. Tem também os aplicativos. Tempo? É
muito rápido! Não deixe para depois, pois como a palavra é nova, provavelmente
nosso cérebro a deletará e você perderá uma boa chance de incorporá-la ao seu repertório.
#memória #leitura #aprendizagem
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