Não
me lembro muito de meus medos de criança. Acho que não os tinha! Morava no
interior, em uma jovem cidade, onde todo mundo se conhecia. Por muitos anos
morei lá. Morávamos em modestas casas de madeira, onde se fechavam portas e
janelas com “tramelas”. O que é uma “tramela”? Um retângulo de madeira, com um
prego no meio, afixado próximo à janela, que servia para fechá-la.
Por
que falar de medo?

Não
são os medos infantis! Não são aqueles medos, que provavelmente muitas crianças
já tiveram. Medo do escuro. Medo do bicho papão. Medo do homem do saco. Medo de
se perder de seus pais.
Os
medos desta menininha de olhar doce, fala mansa, meiguice nos gestos, coração
cheio de amor, são medos frutos desta sociedade, que publica diariamente o
horror, que estamos vivendo. Este horror não está mais restrito às grandes
cidades, capitais.
A
violência invadiu o País inteiro!
Vemos,
nas notícias, os jovens sendo mortos nas portas de suas casas, porque não
quiseram entregar um celular ou porque não tinham o que entregar.
Vemos
jovens morrendo em vida ao serem seduzidos pelo uso de pesadas drogas ilícitas.
Vemos,
nas notícias, bancos sendo explodidos de norte a sul do País. Não estou falando
só das grandes cidades. As pequenas, do interior, antes tranquilas, redutos de
pessoas, que também levavam uma vida tranquila, sem sobressaltos. Pessoas que
deixavam suas janelas abertas até durante a noite!
E o
que se faz sobre isto? Se mostram estatísticas! Estatísticas! Números! O quanto
a violência diminuiu no primeiro bimestre, no segundo trimestre, em relação ao
mesmo período do ano passado!
É
nisto que as pessoas se transformam! Somente números! Deixam de ser pessoas,
seres humanos, seres com sentimentos, sonhos, objetivos, planos, para se
tornaram um número! Um número frio. Um número que destitui a pessoa de toda sua
humanidade. Um número que rouba da pessoa sua essência, sua vida, sua alma.
E
assim vamos nós. Vivendo cada dia. Nos acostumando. Nos acostumando a ver a
violência. Nos acostumando a ver as crianças perdendo a infância e a inocência
desta fase. Nos acostumando a ver o anormal ser normalizado por outras
pessoas... será que podemos chamá-las assim?
Não!
Não me acostumo com isto! Não me acostumarei a ouvir aquela doce menininha
falando de medos adultos. Não me acostumarei a ouvir uma criança contar do
pavor de ter sua casa invadida por estranhos! Não me acostumarei!
Créditos
das imagens:
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