Pular para o conteúdo principal

João Delfiol Construções

João Delfiol Construções

RETROSPECTIVA DO BLOG

Criado com o Padlet

Mamonas nada assassinas

Há imagens que, ao fotografar, me remetem a lembranças da infância. Fico por instantes entre a lente e a memória. O presente se confunde com o passado. Fico inerte. Câmera na mão. Olhos no LCD. Meu cérebro revirando fatos passados, distantes, procurando uma referência, um acontecimento, que explique esta sensação. Parece um déjà vu.
No final de semana, domingo, manhã de sol gostoso, saímos para fotografar. Como o tempo estava meio incerto, ficamos nos arredores de nossa casa, nosso bairro. Tem uma um riozinho próximo, um pouco de mata, uma diversidade de plantas, as vezes flores, as vezes borboletas, as vezes pássaros, muitas vezes, gente.
Ao chegarmos próximos desta parte, que margeia o rio, onde se inicia a mata, comecei a fotografar uma planta. Folhas muito verdes. Muito viçosas. Sem muitas flores. Mas com seus frutos curiosos, algumas flores, que não lembro de ter visto antes. Fotografei. Primeira foto. Segunda foto. As lembranças distantes foram me invadindo.
Lembranças que não vivi. Filha caçula. Naquela época. Quatro irmãos. Três irmãos mais velhos e uma irmã. Muitos, muitos primos, algumas primas. Os primos se reuniam sempre para brincar, claro, brigar. As brigas aconteciam, mas não prosperavam, pois as mães, de ambos os lados, não davam muita corda.
Estas reuniões aconteciam quando morávamos em uma colônia, na qual moravam meus avós paternos, meus tios, tias, irmãos do meu pai. Cada um tinha seu núcleo familiar: esposa e filhos, ou, esposo, filhos. Imaginem uma época, na qual não havia televisão, as pessoas se recolhiam muito cedo, acordavam também muito cedo para trabalhar na roça de café. Claro, que nesta época, filhos eram também mão de obra. Devido a isto as famílias eram numerosas, por isto tínhamos primos com idades iguais ou muito próximas das nossas.
Não tenho muitas lembranças deste tempo, pois meu pai era o filho mais jovem, dos irmãos, eu a filha mais nova dele, logo, não lembro quase nada deste período, mas ouvi falar, ouvir contar histórias. Muitas histórias. Meu irmão mais velho até iniciou um livro para contá-las, mas não tive mais notícias, nem sei se deu continuidade a este projeto.
Nesta época de muitos meninos brincando juntos, inventando brincadeiras, porque não havia brinquedos industrializados. Um dos brinquedos mais comuns desta época eram as atiradeiras, chamados por nós, no interior do Paraná, de estilingues. Eram feitos de uma forquilha de madeira resistente e borracha de câmara de ar de bicicletas, que uma vez furadas, sem condições para remendos, eram reutilizadas para produzir este artefato. Além dele, do estilingue, era necessário algo para usar para atirar e acertar o alvo, fosse ele um passarinho, um mourão de cerca. O que se usava? Houve época, quando se morávamos perto de um ribeirão, se faziam bolotas de argila, barro. Elas eram secadas ao sol, depois utilizadas para se atirar. Quando não se podia mais fazê-las com este barro do córrego, pois morávamos, então, na cidade, a inventividade infantil logo encontrou substituto. E o que foi? Uma certa arvorezinha, que era plantada, cujos frutos acabavam servindo para se extrair óleo. Como eram os frutinhos? Redondos. Verdes. Vários espetinhos macios, de pontinhas levemente dobradas. Nesta fase não machucavam. Quando amadureciam, secavam, estes espetinhos ficavam secos, aí sim, podiam machucar. Nesta fase eram colhidos para se extrair o óleo.

Não. Os meninos não esperavam tanto. Os frutinhos verdes eram arrancados e utilizados como “balas” de seu estilingue. Passavam horas nesta brincadeira inocente, cujo objetivo era este: brincar. As vezes um ou outro poderia sair com um machucadinho, mas sem intenção do atirador. Afinal, no afã da brincadeira, o primo, de pontaria duvidosa, acabava acertando o outro.
Assim as mamonas faziam a alegria dos meninos correndo, com estilingues na mão, acertando os mourões, cupinzeiros, chiqueiros de porcos, as cercas do curral.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dicas sobre provas para eliminação de matérias e ENCCEJA E ENEM

Escrevi uma postagem com dicas para concurseiros de primeira viagem, mas analisando os atendimentos diários que faço no meu trabalho, pensei em escrever outro(s) texto(s) com dicas ou orientações sobre outros assuntos, pois mesmo com tanta informação disponível, as pessoas continuam sem conhecimentos básicos, que podem ajudá-las a resolver problemas simples do seu cotidiano, que vão desde onde procurar a informação, como também onde cobrar seus direitos. Para começar esta série de textos, vou falar um pouco das provas para eliminação de matérias. As pessoas buscam muito este tipo de avaliação, na qual, desde que atinjam as médias, eliminam todo o ensino fundamental ou todo o ensino médio. Para quem pretende eliminar o ensino fundamental - Ciclo II (antigo ginásio, 5ª a 8ª série, 6º ao 9º ano atualmente) poderá fazê-lo por meio do Encceja, que é uma avaliação de eliminação de matérias, ou seja, o candidato pode ir eliminando áreas (Linguagens e Códigos, Ciências da Nat...

Rio Lavapés e as obras do Parque Linear em Botucatu, SP

  Dia 22/10 p.p. resolvi sair para andar um pouco por aí e tirar algumas fotos, coisa que não fazia há bastante tempo. Essa minha incursão foi, principalmente, margeando o Rio Lavapés, em Botucatu, parando em pontos estratégicos, onde existem pontos, nas quais poderia ficar e fotografar o entorno do local, tanto o rio acima e abaixo da ponte, quanto o entorno registrando se há muitas ou poucas casas e prédios. O rio vem passando por obras desde o primeiro semestre de 2020 (aproximadamente), quando ocorreram fortes chuvas na cidade, que foram noticiadas na mídia, que trouxe sérios transtornos para os moradores, que duraram por meses e meses. Foram levadas, segundo notícias da época, cerca de quarenta (40) pontes entre urbanas e rurais, além de casas próximas ao rio, que foram danificadas. As pontes foram reconstruídas pela Prefeitura (vide links de notícias da época), segundo notícias da época, que esclarecem a respeito dos recursos públicos utilizados nessas obras. Ainda há...

Corações gélidos!

  Aos governantes por aí, que acreditam que em qualquer época do ano, a frequência do alunado DEVE SER perto dos 100%... Caros senhores, aqui quem vos fala é alguém que se encontra com os pés, cabeça e o coração no chão da escola, que mesmo, em anos anteriores, atuando em outras funções na educação pública, nunca deixou de ter um contato frequente e regular com unidades escolares muito diversas entre si. Dito isto, vou   abordar aqui quem são os alunos da escola pública. Temos uma clientela bem variada, desde alunos de classe média até alunos menos favorecidos financeiramente. Vou falar destes últimos! Vou falar deles, porque eles, assim como eu, sabemos o que é passar muito frio! O que é ter que acender uma tampa de tambor de ferro no chão da cozinha para fazer uma fogueira e se aquecer nas madrugadas gélidas do sul do País, para só depois poder ir para a cama e tentar dormir. Também sei o que é só ter uma coberta e precisar enrolar os pés com jornal e colocá-los dent...