Por
muito tempo moramos em uma cidade de cerca de setecentos mil habitantes, onde
mal conhecíamos os vizinhos, pois raramente os víamos e os diálogos raramente
ocorriam. Com uma cidade deste tamanho e a correria do cotidiano, muito
raramente ficávamos em casa durante a semana. Raramente sabíamos se tinha
morrido alguém no bairro, só se fosse alguém muito amigo ou das nossas relações
profissionais.
Em
cidades menores os vizinhos acabam se vendo mais. A cultura destas cidades
também é diferente, aliás como em todo nosso País, tão grande com tanta
diversidade.
Curiosamente
na região onde moro agora, aprendi que existe o que uma conhecida chamou de
“propaganda da morte”. Há ainda uma amiga, que sempre tem umas “tiradas”, que
fala que por aqui não basta ter uma tragédia, precisa sair anunciando-a pelas
ruas.
Por
aqui quando morre alguém as funerárias têm um serviço muito peculiar. Sai um
carro de som pelas ruas da cidade, anunciando quem morreu, horário e local do
enterro, quais os entes queridos deixados pelo morto. A voz do homem que faz a
gravação destes anúncios fúnebres tem um tom triste, monocórdico, grosso, que
se espalha como piche grosso se espalha pelo asfalto, aos poucos, lentamente,
queimando tudo.
Em uma
cidade vizinha a prática é outra. Segundo uma conhecida que mora lá, contou-me
isto hoje. A partir da fala dela saiu o título deste texto e, claro, a ideia de
escrevê-lo.
Nesta
cidade com nome de santo, pequena, onde a maioria se conhece, são feitos os
“santinhos”. Não são aqueles para agradecer graça recebida com a foto do santo
de devoção. Coloca-se a foto do morto, informações sobre o velório. Colocava-se
o endereço da casa do morto, mas como isto levou os meliantes a assaltarem
estas residências, pois, na data do velório, se encontravam vazias, deixaram de
publicar estes dados.
Esta
amiga disse que detesta esta prática, pois dias após o enterro do defunto, são
achados os santinhos pelas ruas e calçadas, sendo pisados pelos pedestres,
ainda por cima sujando os espaços públicos.
Curiosamente
por aqui não existem velórios públicos, como em cidades maiores, onde os
velórios são feitos em velórios municipais e sem custos para a família do
morto. Por aqui existem pessoas que ganham com a morte. Não critico estes, pois
encontraram um nicho de mercado e investiram nele. Mas e aqueles que não podem
pagar? Velam seus entes queridos onde? Acho que, como antigamente, nas casas!
Existe
este tipo de anúncio na sua cidade? Como é feito?
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