Na minha infância convivi com pessoas idosas, sempre
gostei de estar próxima de gente mais velha, mais experiente. Mesmo com esta
proximidade a morte não era tão próxima, pois no interior, naquela época, as
pessoas morriam, em geral, somente de velhice.
Desta época lembro-me somente da morte de uma
velhinha, tia de um amigo de meu pai, cujo velório fomos. Na verdade eu fui
levada, não me lembro de quem foi a ideia. Eu era muito pequena, nem sei ao
certo a idade que tinha. Este velório, em uma casa simples, de madeira, no
sítio, rodeada de árvores. Imagine um lugar destes somente com iluminação de
velas, as pessoas ao redor do caixão, pessoas chorando, se lamentando, outras
falando baixinho, cochichando. Eu presenciando tudo isto! Esta cena escura,
cujo local mais iluminado era um caixão de defunto. Isto me deixou de tal foram
aterrorizada, que no dia seguinte tive febre!
Até hoje não gosto muito de lembrar disto!
Os anos se passaram, rapidamente. Há pelo menos treze
anos tenho vivenciado a perda de pessoas queridas, mas nem todas devido à idade
avançada. Primeiro meu pai, dois ou três anos depois um irmão, que ficou anos
na cadeira de rodas, vítima que foi de um derrame cerebral. Mais dois ou três
anos mais um irmão dele, que veio a falecer vítima de um acidente doméstico,
como meu pai, meu avô. Mais dois ou três anos e outro irmão dele se foi.
Recentemente se foi um primo, vítima de um acidente
de carro, cujo causador também morreu.
Agora vejo uma tia muito, muito querida, a irmã mais
velha de meu pai, nos deixando aos poucos. Ela sempre foi uma mulher muito
forte, batalhadora, uma mulher exemplar, que criou seus filhos, com a ajuda da
filha mais velha, sempre trabalhando muito. Uma mulher dinâmica, temente a
Deus.
Esta mulher, agora com oitenta e nove anos, se rendeu
à idade, aos problemas advindos com o tempo: o Alzheimer, o Parkinson. Não
reconhece os filhos, nem a filha que cuida diariamente dela, que a alimenta, dá
banho, troca as roupas. Não anda mais, coisa que ela adorava fazer. Andava
quilômetros a pé para ir a Igreja no centro da cidade de Osasco onde morava.
Não que não passasse ônibus perto de sua casa.
Quando ela olha os parentes que vão visitá-la, fixa o
olhar, um olhar terno, mas que não traz as lembranças, muitas, que a fariam
dizer o nome de um, de outro. Alguns nomes lhe vêm à mente, ela os fala sem
contexto. Em geral fala os nomes dos irmãos que se foram há tantos anos.
Não sei como encerrar este texto. Que dizer? Nada que
eu diga, ou escreva, poderá expressar o tanto que isto é triste. O quanto é
triste ver nossa História também indo embora, nossas referências...
Comentários
É a marcha inexorável do tempo.
Rezo todos os dias para que no fim da vida Deus não me tire a lucidez.
Um abraço