Hoje, fazendo uma faxina no meu computador, em especial na pasta de downloads, para onde vão todos aqueles documentos que baixamos da internet, achei um TCC de uma ex-aluna minha.
Não, ela não foi minha aluna na Faculdade, nem no Ensino Médio.
Ela foi minha aluna nos primeiros anos de minha carreira no magistério, em sala de aula, quando, professora iniciante, encontrava alunos de 5ª série, maioria vinha totalmente alfabetizada, eu tinha a tarefa de ensinar gramática, amor à leitura (realizei projetos de leitura por prazer!).
Esta aluna em especial, moradora de uma favela bem conhecida em Santo André , filha de família humilde, trabalhadores, que ensinaram a ela o mais importante: o valor da Educação.
Já na 5ª série lia os livros, que o pai, estudante do supletivo, estava lendo. Ela, era gordinha, os colegas até faziam gozações com ela, mas que ela tirava de letra. Sentava-se em uma das primeiras carteiras, sempre atenta, estudiosa, não faltava às aulas, já tinha sonhos profissionais: ser socióloga.
Como todos nós, filhos de gente humilde, estudou, trabalhou. Tentou bolsa do Pro-Uni, mas foi “enrolada” pela Faculdade e pelo programa, ficou um jogo de empurra-empurra. Conclusão: não cursou esta Faculdade.
Não, ela não desistiu. Poderia ter ficado se lamentando pelos cantos, falando que era discriminada pela sociedade, excluída...
Conseguiu passar em uma prova para estágio, pelo Governo do Estado, começou a trabalhar.
Passou no vestibular da FATEC, usou os conhecimentos do estágio para elaborar seu TCC, que li, ajudei a corrigir. Quanto orgulho pra mim! Depois de concluído, me enviou uma cópia, onde pude ler nos agradecimentos “À Professora e amiga ... que há 13 anos acompanha minha trajetória, estimula meu crescimento e auxiliou na correção desta monografia.”
Esta mesma aluna, quando recebeu um convite de trabalho, novo, me enviou e-mail solicitando minha opinião, que humildemente dei, pois quem sou eu para decidir o futuro dela. Senti-me amiga, confidente. Fiquei feliz por fazer parte e ser importante, referência para a vida dela.
Queria muito ver mais pessoas como ela, que mesmo diante das adversidades, renovam suas forças, seguem em frente abrindo novos caminhos, sonhando novos sonhos.
Queria ver mais pessoas que, mesmo morando em “comunidades”, vissem em si mesmos a chave da mudança, da transformação. Que soubessem que o que transforma nossa realidade, nosso ser, nossa vida, é a Educação.
Por que pus a palavra comunidades entre aspas? Não é mudando o nome do lugar, que mudará a mentalidade das pessoas.
Não, não tive somente esta aluna que seguiu lutando, realizando, estudando, mas ela é o melhor exemplo, a meu ver, do quanto a Educação pode transformar, incluir pessoas.
Esta moça, mulher, foi minha aluna há mais ou menos 15 anos. Ainda me emociono ao lembrar do rostinho da menina de 10, 11 anos sempre sorridente e participativa, sentada na primeira carteira.
Para você, aluna querida, agora amiga, dedico este texto!
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