Há algum tempo recebi em
casa sobrinhas em férias e um dos muitos irmãos, que veio realizar uma pequena
reforma.
Neste período, curto, da
estadia delas comigo, pude observar algumas situações interessantes. Ambas têm
pouca diferença de idade. Estão na faixa dos dez anos. Como crianças do seu
tempo têm um gosto especial por tecnologia, celulares, computadores, tablets.
Mesmo com este gosto próprio
de sua geração, também gostam de outras brincadeiras infantis. No período de
férias com um espaço maior, do que apenas um corredor para brincar, aproveitam
o quintal, a calçada da casa, bem como outros espaços públicos em passeios
programados para elas.
Durante este período e a
reforma ocorrendo, no quintal, com a retirada de um piso velho, colocação de
outro, o barulho natural deste tipo de trabalho, a poeira, percebi o interesse
de uma delas em observar o tio trabalhando. Percebi, que em alguns momentos,
ela deixava de balançar na rede, ou deixava o computador, para ir rodear o tio,
observar o trabalho e, claro, perguntar.
Talvez se fosse uma pessoa
estranha, ela não faria isto, porém como era o tio, com quem convivem regularmente,
ainda por cima, uma pessoa paciente, que gosta de crianças, trouxe para ela as
condições para satisfazer suas curiosidades sobre o trabalho, que estava
ocorrendo no quintal.
Não acompanhei todos estes
momentos, pois os afazeres domésticos tomavam um tempo, mas em uma destas ocasiões, percebi ela deixando a rede,
deixei o que estava fazendo e fui rodear o “tio”.
Nesta ocasião pude
acompanhar a mais velha perguntando ao tio sobre a máquina, sobre o metro, que
ele usava, sobre outras ferramentas, que estavam por ali; sobre o que ele
estava fazendo, porque, como. Ele ouvia as perguntas, pacientemente, ia
respondendo a cada uma. Ele estava demonstrando, na prática, conhecimentos de
matemática, que ele usa no cotidiano, por exemplo, ao colocar um piso.
Ela, na escola, pelos
relatos da mãe, de vez em quando, tem dificuldades na matemática. Não sei bem
os motivos, pois há um apoio da família em casa, onde há horários para estudo,
para realizar as tarefas.
Talvez esteja faltando, na
escola onde estudam, a chamada contextualização, ou seja, fazer o que o tio,
que não é professor, estava ali fazendo, ou seja, mostrando para que usamos a
matemática. Além de explicar, na teoria, mostrando desenhos de um piso
colocado, ensinar a fazer os cálculos, armar as continhas, talvez sejam
necessárias atividades práticas, como já vi em outras escolas, por exemplo,
como pegar um metro e medir a sala de aula onde estudam. Também poderia ser
feita outra atividade, que existe em determinados currículos, na qual o aluno é
desafiado a medir um determinado espaço, sem usar a régua, sem usar trena, sem
usar metro, ou seja, precisa pensar em soluções para este problema prático, que
levou o ser humano a criar o sistema métrico.
Como o ser humano se
desenvolveu? Criando soluções para problemas do seu cotidiano. Como medir uma
pirâmide sem instrumentos modernos? Como contar ovelhas ou cabras sem numerais?
Como registrar uma história sem ter, ainda, um sistema de escrita? Como
iluminar as cidades? Como dominar a energia elétrica dos raios?
O que o ENEM cobra dos
jovens na redação? A proposta de solução para o problema levantado no texto
dissertativo-argumentativo. Como ter uma solução se não pensamos a respeito dos
problemas, que nos afligem?
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