Em um País não muito longe daqui, aconteciam coisas,
que contando ninguém acredita. Este lugar, dividido em estados, em cidades,
como todo país, que se preza, afinal todo território precisava ter uma certa
organização, hierarquia.
Mas que coisas aconteciam por lá?
Cada cidadezinha deste país, claro, tinha suas
autoridades, entre elas, o prefeito. Mas o que tem de tão extraordinário nos
afazeres de um prefeito? Eles dão seu expediente na prefeitura. Se reúnem com
seus secretários para ver o que cada um está fazendo na sua pasta. Assinam
documentos diversos. Ah, mas tem também aqueles momentos muito especiais, que
os prefeitos adoram. Você saberia dizer quais são? Pense bem.... Não sabe?
Aquele momento de infinito prazer, orgulho, regozijo... o momento da inauguração
de obras. Pequenas, grandes, médias, novas, mais ou menos... não importa! O
negócio é ser notícia! É aparecer! E como?
Neste país muito distante cada um destes prefeitos
tinha suas próprias estratégias. Quer conhecer algumas?
Tinha aquele prefeito de Bofópolis, que inaugurava de
tudo, até mesmo obras que não foram feitas pela Prefeitura... Contavam que
certa vez ele inaugurou uma quadra de esportes de uma escola, que pertencia a
outra esfera do poder público. Foi lá, chamou gente, inaugurou, tirou fotos,
saiu na gazeta da região.
Havia também outro prefeito em outra cidadezinha, que
andava meio em baixa, com poucas obras para inaugurar, não aparecia no jornal
tanto quanto gostaria. Ele pensou, pensou, pensou... teve uma ideia! O que o
povo quer? O povo clama pelo quê? Saúde e educação!
O que ele fez? Soube do feito do prefeito de
Bofópolis, resolveu imitá-lo.
Foi até uma escola, de outra esfera pública, claro,
mas onde tinha trânsito livre, afinal era autoridade da cidadela, verificou que
a mesma estava em obras, uma reforma próxima de acabar. Na hora teve a ideia!
Retornou para o seu palácio encantado, reuniu sua equipe, orientou-os. O tempo
passou, não tão rápido quanto ele queria, mas fazer o que, isto ele não
conseguia mudar a seu favor. Teria que esperar...
Chegou o grande dia! Convites distribuídos, muita
gente reunida, pais, alunos, professores, comunidade do entorno, mídia
impressa, falada e televisionada, internet, enfim todas as mídias ali, com
microfones, câmeras e filmadoras a postos para gravar o grande momento. O
momento muito especial da inauguração de mais uma obra. Ele, o prefeito, foi até o palanque improvisado,
distribuiu sorrisos, acenos, beijou criancinhas, senhoras idosas, quarentonas,
bonitas, feias, ricas, pobres (afinal as próximas eleições não estavam tão
distantes!), proferiu seu discurso, gestado por vários e vários dias. Usou as
palavras que o povo mais gosta: educação de qualidade, cidadania, inserção
social, e outras tantas. Inaugurou a reforma da escola. E a outra autoridade?
Que outra? Ele só enxergava e ouvia a si mesmo!
Não se assustem com estas histórias! Não, elas não
aconteceram em nosso País. Não, no Brasil isto não acontece! Não existem obras
inacabadas. Não existem obras faraônicas inconclusas. Não existem obras caríssimas,
em detrimento de outras mais urgentes e necessárias.
Não. Isto, que contei, meus amigos, só acontece em
cidades imaginárias!
Aviso: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança
com pessoas, fatos, lugares, terá sido mera coincidência.
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