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João Delfiol Construções

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RETROSPECTIVA DO BLOG

Criado com o Padlet

Era uma vez... uma autoridade

Era uma vez... em uma cidade distante, muito distante daqui. Uma cidade pequena, daquelas que existem aos montes no interior do nosso país. Como toda cidadezinha assim tinha, claro, um prefeito. Como todo prefeito de uma cidadezinha ele se achava uma autoridade. Popular? Popularíssimo!
Quem era o maior empregador da cidade? Ele! Quem autorizava asfaltamento das ruas? Ele! Quem autorizava a máquina a ir para as estradinhas dos sítios e deixá-las mais planas para facilitar o tráfego dos caminhões de leite e dos ônibus escolares? Ele! Quem escolhia os diretores das escolas do município? Ele! Sim. Tudo passava por suas mãos e era sua assinatura, que decidia destinos e obras na cidade.
Ah! O doce prazer do poder! Como se sentia bem naquela sala bonita, com bonitos móveis, um ar condicionado, que o protegia do calor insuportável do verão. Os monitores de led em sua sala mostravam as filas, na ante-sala, das pessoas, que vinham pedir todo tipo de ajuda: pagamento da conta de água, conta de luz, pagamento do gás, pagamento do supermercado, doação de cestas básicas. empregos, dinheiro.
Ele também tinha sua própria secretária que, na ante-sala, fazia triagem das ligações telefônicas, das pessoas que receberia ou não.  Quem era a secretária? Alguém de sua confiança, claro. A filha de seu amigo, prefeito da cidade vizinha. Sim! Porque não pode haver nepotismo! E a filha dele, onde trabalhava? Como secretária do prefeito da cidade vizinha. Tudo dentro da lei!
Como prefeito sempre comparecia a eventos diversos, afinal ele era AU-TO-RI-DA-DE! Nestas ocasiões aproveitava para beijar as vovós, pegar criancinha no colo, apertar muitas mãos, dar muitos abraços e sorrisos. Isto, com certeza, lhe renderia votos nas próximas eleições! E ele fazia isto como ninguém!
Como era bem recebido nos lugares! Sempre! Por isto ia a todos, sem o menor constrangimento, sem receio de nada, sem temor.
Até aquela data! Jamais esqueceu! Nunca mais esqueceria daquele fatídico dia! Nem que se passassem cem anos! Continuaria ouvindo aquelas vozesinhas irritantes!
O que houve de tão terrível?!?
Fora convidado, por uma de suas diretoras de escola indicadas, a comparecer à escola e falar um pouco do cotidiano do prefeito. Tinha coisa melhor? Falar a futuros eleitores sobre ele? Futuros eleitores, que poderiam votar no seu filho que, com certeza, seguirá carreira política, como era tradição no país. Bastava ter um nome conhecido na política, que já tinha mais de meio caminho ganho para um cargo eletivo! Dormiu pensando em como falaria, como deixaria o trabalho do prefeito ainda mais importante!
Chegou o tão esperado dia! Entrou na escola. Andou pelo corredor até que chegou ao pátio, que estava cheio de alunos, sentados no chão, quietos, sob olhares atentos dos professores, coordenação e direção.
Foi falando para os alunos, como era seu cotidiano na prefeitura. Ia versando sobre as obras, as verbas, as idas e vindas ao palácio do governo, onde pleiteava mais recursos para o município. Quando ele estava quase acabando sua fala, veio a sua mente, uma idéia incrível: perguntar sobre a merenda! “Era uma excelente ideia, afinal os alunos comiam regularmente da merenda, que ele autorizava! Que ele pagava! Na época dele, de escolar, nem merenda tinha! Então, lógico, iam elogiar a comida! De boa qualidade! Até fruta tinha! Tinha também salsicha! Quando na infância dele comeu salsicha? Nunca! Tinha também polenta! Tinha sopa! Alguns dias da semana tinha até arroz e feijão! Tinha carne! Quando criança ele comia carne, só quando a mãe matava frango! Macarrão com carne? Só  no natal!”
Com todos estes pensamentos, que agora povoavam a cabeça dele, olhou para aquele pátio cheio e lembrou do seu tempo de infância, nos anos da Ditadura, onde só se ouvia. Só se respondia, se fosse perguntado! Criticar uma autoridade? Nunca! Nem o Diretor da Escola, nem o Professor, imagine então uma autoridade maior ainda! Jamais! Como seria doce ouvir a resposta positiva dos aluninhos! Ah, como não podia deixar de ser, trouxe dois assessores, responsáveis pela área de comunicação, afinal precisava registrar seus feitos!
Assim com os olhos brilhando e o coração aos pulos, a mente se regozijando de antemão pela resposta, fez a pergunta, em alto e bom som: “Caros alunos, vocês gostam da merenda servida aqui na escola?” Foram segundos entre a pergunta e a resposta, mas para ele foram horas e mais horas de tortura na espera daquela palavra linda, que seria dita em uníssono por aqueles futuros eleitores! Que seria ouvida, mais tarde, pelos seus pais, já eleitores! Quantos votos não angariaria com este vídeo e esta avaliação sincera, daquelas sinceras e inocentes crianças? Já conseguia antever os votos para ele, ou para o filho, sendo digitados um a um na urna eletrônica! Antevia os humildes cidadãos um a um acessando a urna, onde apareceria sua foto, ou quem sabe, do seu filho, como candidatos a prefeito, deputado estadual, federal... Presidente!
E qual não foi sua surpresa, quando, após a sua pergunta, aquelas cerca de trezentas boquinhas infantis pronunciaram, em muito alto e muito claro e muito bom tom: “NÃÃÃÃÃÃOOOOOO! NÃO GOSTAMOS DA MERENDAAAAAAAA!”


Obs. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos, pessoas, terá sido mera coincidência.

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