Muito já se falou do “jeitinho
brasileiro”, do “gosto de levar vantagem em tudo, certo?” e outras máximas que
certos brasileiros usam para direcionar suas atitudes, pequenas ou grandes, no
cotidiano de suas vidas.
Mas falta ainda falar do jeitinho
brasileiro na era da informática e da comunicação. Este jeitinho de querer “dar
uma volta”, “levar vantagem”, “ser o primeiro em tudo”, ganhou ajudantes
adicionais, que ajudam o brasileiro a guardar lugar na fila para a mulher,
enquanto ela faz comprinhas básicas no shopping, guardar lugar na fila enquanto
o pai, idoso, fica na fila do idoso, ambos aguardando qual fila será mais
rápida, assim ambos irão para esta fila.
Mas quais serão estes periféricos
do ser humano, que o ajudam a “levar vantagem”?
Primeiro é o celular. Objeto de
primeira necessidade em tempos de comunicação, de informação, tornou-se um
aliado importantíssimo para este brasileiro. Enquanto a esposa passeia
vagarosamente por entre as inúmeras vitrines do shopping, o marido guarda lugar
na fila do cinema, na fila do show, na fila do supermercado, não importa...
quando está chegando próximo ao caixa, tira o celular do bolso, imediatamente
liga para a sofredora esposa, que está gastando as solas dos sapatos em busca
de uma oferta, uma bolsa nova, da moda. Convoca a mulher a vir para a fila,
porque está chegando a hora, assim a coitada da mulher não perde seu precioso
tempo ficando na fila, pois isto é para os pobres mortais, não para estas
pessoas que têm “sangue azul”.
Além do celular temos outro, que
também serve como celular, mas que tem o nome de uma marca, que estes
brasileiros ostentam, utilizam com frequência “o Nextel”. Ficam com este
aparelho, o tempo todo ligado, para tratar de assuntos úteis e fúteis, com
aquele som irritante a cada chamada, a cada troca de falantes na conversa.
Ontem vivi esta situação.
Ficamos, eu, minha sobrinha, e centenas de pessoas em uma fila, por mais de uma
hora, sob um calor estafante, de vez em quando sob o sol igualmente estafante,
aguardando para ter acesso a uma exposição. Atrás de nós, este brasileiro,
marido, pai, muito cioso de suas obrigações como tal. De posse do quê? Um Nextel.
Não vimos, nem percebemos este aparelho enquanto a fila estava distante da
porta de entrada. Bastou chegarmos perto da tal porta, que o sujeito ligou o
aparelho e começou a conversa. “Amor, estou chegando perto da porta de entrada.”
“Anda logo, vem pra cá”
Chegou a esposa e suas crias, dois
ou três adolescentes, daqueles que não vão nem até a esquina, sem os pais... A
distinta senhora chegou, se postou ao meu lado, meio tentando entrar na minha
frente na fila. Não conseguiu!!!
Enfim após a reunião da família,
desligaram o Nextel, pois não precisavam mais deixar a fila, porque não haveria
como mudar de lugar, passar na frente dos demais, nem arrumar um amigo, que
estivesse melhor colocado na fila para então, fingir que estavam juntos, pular
para a frente!!!
Comentários