Mais uma vez passou alguém pedindo “ajuda” no meu portão. Tenho percebido que aqui isso acontece com freqüência.
Hoje a pessoa pedinte em questão era uma mulher, moça, bem jovem, que queria uma ajuda, mas não disse qual seria.
No sábado à noite quando eu e minha família estávamos sentados no quintal, de repente surgiu do nada, um rapaz, jovem, loiro, bem vestido, apesar de ser noite pude vê-lo bem, se apresentou como sendo o vizinho fulando de tal, que mora na casa tal, com uma sacola de supermercado, com alguns itens que queria vender por dez reais, porque sua mãe havia chegado e estava na rodoviária e ele precisava busca-la, mas estava sem dinheiro para por combustível no carro. Disse que não queria comprar nada e ele se foi.
No domingo, início da noite, percebi que a rua estava muito escura, fui até o portão verificar o que estava acontecendo. Vi que a luz em frente a casa do tal vizinho estava queimada, mas ele estava sentado em frente ao seu portão, fumando prazerosamente seu cigarro (mas não precisava de dinheiro para buscar a mãe?). Estava fumando, pois via a luzinha do cigarro, acendendo e apagando, conforme dava tragadas.
Um dia apareceu, em outra casa onde morava, logo pela manhã, um homem. Chamou, pus a cabeça para na janela (com grades) e perguntei o que desejava. Ele disse que estava vindo do hospital (que fica em um bairro muito afastado, praticamente zona rural) e precisava de dinheiro para pegar um ônibus para ir para casa, outro bairro muito afastado, uns 15 quilômetros ou mais da cidade. Enquanto ia falando, eu ia observando, ouvindo. Quando o vento soprou, confirmei minhas suspeitas: cheiro forte de bebida.
Isso tudo me fez lembrar, que passamos por muitas dificuldades em nossas vidas. Minha mãe em especial, passou muitas. Houve uma época, que precisou trabalhar fora, porque nossa situação financeira estava dificílima. Ela estava com dois filhos crianças, os mais velhos morando longe, mas nem sempre podia contar com a ajuda deles, por isso procurou TRABALHAR. Trabalhou de empregado doméstica em algumas casas, cuidava dos filhos, cuidava dos afazeres de sua própria casa.
Agora as pessoas preferem pedir... dinheiro! Ninguém vem procurar emprego, uma roupa para lavar, uma casa para faxinar, um quintal para limpar, carpir, não! Tudo isso dá trabalho! Mais fácil é PEDIR!
Que cidadãos a sociedade está criando, que ao invés de procurar um trabalho digno, prefere se transformar em pedinte?
Onde está a dignidade do trabalho? De ganhar a vida com seu próprio esforço?
Onde fica aquele famoso ditado “O trabalho dignifica o homem”?
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