Muitas vezes andei por aquela
rua. Indo para o trabalho. Visualizando a subida íngreme, mas que tinha dois
quarteirões. Quantas vezes andei por ela indo visitar parentes, que nela
moravam.
Um dia meus olhos avistaram
um terreno, cheio de mato, próximo a outras casas. Nele havia uma placa. Uma
imobiliária anunciava sua venda. De um comentário como esposo, surgiu o
interesse. A venda para o primeiro comprador não saiu. Ficamos à espera.
Ali removemos muita terra.
Setenta caminhões. Dali saíram muitos ratos, que lá habitavam há muito tempo.
Após a limpeza necessária, os tapumes colocados. Começamos a levantar nosso
sonho. Primeiro em nossas mentes. Mais tarde uma arquiteta, amiga nossa, materializou-o
usando o AUTOCAD. Estava ali. Diante de nós o sonho desenhado com detalhes,
medidas e proporções.
O tempo passou. Economia.
Muita economia. Salário de professor, pagando aluguel. Fomos erguendo o sonho,
tijolo por tijolo. Percalços, muitos no caminho. Pedreiro sem compromisso,
desonesto. Obra inacabada. Mudança apressada. Garagem sem portão. Tapumes
vedavam nosso lugar dos olhares indiscretos. Escuridão. Mudamos. Nossa casa.
Nossa primeira casa. Sem varanda. Uma porta para o nada. A janela para o mundo.
Muita luta. Muitas
prestações depois. Muitas idas ao depósito de materiais de construção depois.
Trabalhos extras nas férias para o marido. Economia, muita economia em casa.
Sem saídas para o lazer. Sem roupas novas e novos calçados. Sem a pizza tão desejada.
Amigos ajudaram. Mutirão para encher as lajes. Churrasco para alegrar os
amigos, parentes e demais, ex-alunos, vizinhos, todos eram bem vindos. Uma laje.
Duas lajes.
Pausa para recuperar as forças,
recuperar as finanças. Sonho ali, inacabado. Mais um sonho um lar bonito, novo,
confortável para mãe e irmãos. Mais tempo se passou.
Mais pedreiros, mais tempo,
mais dinheiro. Mais luta. Muita luta. Mais trabalho nas férias do marido para
ganhar um extra. Mais um lance da enorme escada. Muitas viagens pelas cidades
da grande região. Livros entregues. Divulgação.
Mais tempo se passou e a
continuidade de nosso sonho. A entrada da luz. Uma mão, duas mãos, um grande
irmão. Energia? Fiação? Quem vai passar? Marido, irmão caçula, amigo-irmão, o
Marcão.
Enfim chegou o dia. Alguns
detalhes faltavam. Tomadas? Muitas? Colocadas? Somente as necessárias. Mudança.
Mãe e irmãos caçulas no seu novo lar. Pai? Tinha sido convocado por Deus.
Profetizou “Não, não vou morar nesta casa. A 2000 chegarei, de 2000 não
passarei.”
Quantas lembranças... Tempos
duros, mas de realizações. Só de escrever este texto, relembrar alguns anos de
vida, um filme se projeta em minha frente. Lágrimas nos olhos. Coração feliz!
Realizamos nosso sonho. Contribuímos para realizar outros sonhos, sonhos de mãe
e irmãos.
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