Em
educação falamos muito em formar um aluno crítico, que saiba conviver, bem como
aprenda a aprender. Na verdade são quatro características essenciais, que
deveriam orientar o fazer pedagógico. Citei estas duas e vou me deter mais na
segunda, pois será o objeto deste texto.
Quero
propor primeiro que você, leitor, faça uma volta ao passado. Peço isto, em
especial, para aqueles que estudaram antes de 1994, ano da atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, bem como das mudanças oriundas da publicação
dela.
Faça
uma análise destas pessoas que você conhece. Eu vou fazer de algumas que
conheço, vou começar por mim. Será que eu consegui me adaptar ao novo e
continuar aprendendo mesmo após sair da Escola? Vou deixar para responder isto
no final do texto, assim você também vai pensando...
Tem
uma pessoa muito próxima a mim, mais ou menos da mesma idade, que cursou o
ensino fundamental e ainda bem jovem fez um curso técnico, por correspondência,
em eletrônica. Durante muitos anos atuou na área, consertava de tudo: rádios, TVs. Instalava
antenas, modernas, para a época. Viveu disto durante bastante tempo até... que
em 1994 iniciou, após o Plano Real, a enchurrada de aparelhos importados no
Brasil, o que fez com que as pessoas deixassem de consertar aparelhos, pois era
“mais vantagem” comprar um novo e mais moderno. Assim como esta pessoa, outras
que tinham a mesma profissão, “quebraram”, foram obrigados a mudar de
profissão. Esta pessoa em especial foi atuar com construções, reformas de
casas, prédios. Houve quem fosse vender bananas... Outros continuaram
insistindo na eletrônica sem muito sucesso.
Estas pessoas tiveram que aprender a aprender. Tiveram que descobrir,
nas suas experiências, algo que pudessem realizar, que fosse possível ganhar
dinheiro para o seu sustento e de sua família. Esta mesma pessoa atualmente
divulga seus serviços em sites voltados a este segmento, buscando aumentar sua
clientela. Mais um aprendizado... usar a internet como forma de dar visibilidade
ao seu trabalho!
Já
fez sua análise das pessoas conhecidas? Aposto que, após este relato, você já
está se lembrando de algumas pessoas, cujas trajetórias de vida sejam
parecidas.
Disse
que falaria sobre mim no final do texto... No início de minha carreira
datilografava meu material de trabalho em uma máquina de escrever grande,
pesada, da Remington, que ainda tenho. Em meados de 1995 senti a necessidade de
aprender a usar o computador, pois nesta época as escolas estavam começando a
receber seus primeiros computadores. Comecei a ouvir palavras, que não faziam
parte do meu repertório, isto começou a me incomodar. Não poderia ficar de fora
desta mudança que estava em curso. Fui procurar oportunidades para aprender a
usar esta nova ferramenta, que nos olhava e nos desafiava tal qual a esfinge “Decifra-me
ou devoro-te!”
Continuo
aprendendo a usar recursos relacionados à informática até hoje, pois é uma área
em constante mudança.
Esta
necessidade de aprender, de nos atualizar, precisa fazer parte de nossa vida,
de nosso cotidiano.
Será
que meus professores, que viveram e se formaram décadas anteriores a mim,
tinham esta visão, quando estavam em sala de aula? Será que eles, em seus
sonhos mais delirantes, poderiam supor tal reviravolta na tecnologia como a
operada pela informática e internet?
Acredito
que não.
O
que temos de diferencial? A vontade de aprender. Fomos seduzidos pela escola,
de trinta anos atrás? Acho que não. Aliás, tenho certeza, pois as aulas tinham
como recursos giz e lousa, muito raramente víamos umas paisagens para fazermos
uma “descrição à vista de uma paisagem”. Biblioteca com acervo para jovens?
Não. Na minha cidade não havia nenhuma biblioteca, nem jornal. O jornal que eu
lia, era jornal velho, que embalava as mercadorias e a carne no açougue. Fui
entrar em uma biblioteca quando fui fazer minha primeira faculdade, com cerca
de 23 anos, em outra cidade!
Isto
me prejudicou? Não. Poderia ter lido mais na minha infância? Acho que sim,
gostaria muito que tivesse sido assim. Tanto penso assim, que sempre que posso
presenteio sobrinhos com livros e gibis, conto histórias, leio histórias, pois
acredito que uma criança, que goste de ler, leia muito, vai bem melhor na escola,
do que aquele que não lê.
Isto
é primordial: ler. A leitura nos abre as portas do conhecimento. Ela é a
ferramenta, que dá acesso a novas informações. Por meio dela conseguimos
realizar o aprender a aprender.
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