A gente comenta que a vida passa
rápido. Que em um abrir e fechar de olhos as coisas mudam, mas não temos a
exata consciência disto. Eu pelo menos não tinha!
Na infância e adolescência, apesar de
problemas financeiros, familiares, sempre tive meus pais por perto, meus
irmãos, meus tios, primos. Com o passar do tempo as vidas das pessoas foram
tomando outros rumos, o que é natural, casamentos, mudanças de cidade,
nascimentos, mas ainda assim todos estavam ali.
Há uns doze anos tudo isto começou a
mudar. Primeiro faleceu meu pai, o irmão mais novo, de uma família de seis:
quatro irmãos e duas irmãs, uma delas mais nova que ele. Depois disto, a cada
três anos, mais ou menos, foram morrendo os irmãos dele. Até que sobraram as
duas irmãs, uma delas está com bem mais de oitenta anos. Estas perdas tão
próximas mexeram comigo, pois sempre fomos muito próximos da família de meu
pai.
Há uns três anos mais ou menos,
tivemos a perda de um primo, que tinha a minha idade, que morreu brutalmente em
um acidente de trânsito, provocado por um motorista de vinte e seis anos, e
envolveu além dos dois carros de passeio, mais duas carretas! Este primo,
pessoa boníssima, muito querido por todos nós, estava planejando refazer sua
vida, segundo sua mãe, estava cheio de planos. Ela, minha tia, ficou
abaladíssima com a perda do filho caçula.
Eu havia visto esta tia no início do
ano, em que o filho dela morreu. Era ainda mulher forte, de voz firme,
batalhadora, olhar terno, carinhosa com todos, de uma fé em Deus muito forte,
sempre envolvida com as atividades da Igreja, ajudando o próximo.
Recentemente falei com ela por
telefone, na verdade, ela quase nem se lembrava de mim, me confundia com a
filha dela. Chorou muito. A voz ainda era a mesma, mesmo entrecortada pelo
choro, pela tristeza, pela dor.
Dias depois vi uma foto dela em uma
rede de relacionamentos. Só a reconheci, porque estava rodeada pelo outro
filho, nora e netos. Em nada lembrava aquela mulher, que eu havia visto três ou
quatro anos antes. Muito velhinha, cabelos brancos, magrinha, de cadeira de
rodas...
Esta foto também mexeu muito comigo,
pois sempre freqüentei muito a casa desta tia, não só eu, a família toda, pois
ela sempre foi acolhedora, carinhosa, amiga, sempre tinha uma palavra de
encorajamento para cada um que estivesse com problemas. Tanto era assim, que
durante anos participou da Pastoral Carcerária da Igreja Católica na cidade
onde mora. A casa dela sempre estava aberta à família, amigos dela e dos
filhos.
Soube por amigas, que moram na mesma
cidade, que ela estava assim, debilitada. Tinha sabido, tempos antes, pela
filha dela, que ela estava passando por problemas de saúde, pois estava
depressiva, após a morte do filho mais novo.
Estes relatos, claro, me preocuparam.
Me deixaram triste. Mas ver aquela foto, não reconhecer a tia, a mulher forte,
que passou por tanta coisa na vida, que, mesmo triste, erguia a cabeça,
enfrentava as dificuldades, grandes, que tivera. Aquela imagem me chocou muito!
Acho que a perda, a imensa perda do
filho mais novo, a tristeza profunda, a tristeza a feriu muito, de tal forma
que transformou-se em doença.
Acredito que nenhuma mãe amorosa, como
ela sempre foi, imagina perder um filho, ver o filho ser arrancado dela de
forma tão brutal, tão inesperada, tão horrenda, tão inesquecível.
Até quando veremos isto acontecer?
Pessoas irresponsáveis com um carro nas mãos, dirigindo sem pensar no próximo,
nem em si mesmo, destruindo a vida dos que morrem no acidente e dos que ficam
sem seus entes queridos?
Comentários
Mauricio
Quanto à autorização para copiar os textos, posso pensar no assunto, mas gostaria primeiramente de conhecer o seu blog, por enquanto se quiser, poderia colocar links para os textos que gostou abaixo dos seus textos como sugestão de leitura!!!
Obrigada por acessar o blog, por comentar!
Quero muito conhecer o seu, poder acompanhá-lo!